Brasília, 18/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - Além de debates, palestras e apresentações musicais, várias exposições de arte estão incluídas na comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra (quinta-feira, 20), abertas desde segunda-feira (17).
Mostras como "Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro", do fotógrafo Januário Garcia; "Cotas e Contas", do cartunista Maurício Pestana; e "Sagrada Geometria", de Rubem Valentim estão abertas ao público para revelar aspectos da cultura e do povo negro. E também, de acordo com a Fundação Palmares, celebrar avanços como a implantação do sistema de cotas para negros e negras na Universidade e no mercado de trabalho, o reconhecimento das terras de Quilombos, a ampliação do intercâmbio cultural com os países africanos e a firmeza dos sacerdotes no combate a intolerância religiosa.
Januário Garcia conta que sua exposição fotográfica faz parte de um projeto maior – "Verdade que a história não conta", coordenado pelo ator Antônio Pitanga – e já rendeu vídeos, CD-ROM e livros. O trabalho é parte de um outro conjunto também, o "Documenta Brasil", de matrizes africanas, que foi iniciado em 1974.
A idéia de registrar os hábitos, costumes e a cultura do povo, segundo Garcia, surgiu da importância de se documentar todas as lutas de movimento negro no país. "Como sou militante do movimento negro no Rio de Janeiro, comecei a perceber que questões específicas de racismo e redemocratização do país só eram vistas lado de fora", explica o fotógrafo, para quem "existe história do negro sem o Brasil, mas não existe história do Brasil sem o negro"
A partir desse trabalho, Januário Garcia foi convidado pela ONU a expor durante a Confederação de Chefes de Estado de 2004. A proposta veio do Clube de Língua Portuguesa – que reúne os oito países membros da ONU onde se fala o português: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor Leste, Portugal e Brasil. Depois, a exposição irá a cada um desses países.
Cotas e geometria
Sobre a questão de cotas nas universidades o cartunista Maurício Pestana, que expõe seus trabalhos em "Cotas e Contas", lembra que a discussão é polêmica. "Alguma coisa já foi conquistada, mas ainda há muito a ser feito. Antes a gente brigava e não era ouvido; agora, as coisas estão mudando um pouco. Para poder avançar, é preciso discutir", explica. E com a intenção de gerar mais discussões, ele desenhou charges sobre o tema, depois de reunir informações para incluir críticas sutis em sua obra.
Há 20 anos Pestana lida com as questões raciais, seja no mercado de trabalho, nas Igrejas, empresas ou universidades. Depois de passar pelo Fórum Social Mundial e pela capital federal, a exposição "Cotas e Contas" irá para Recife, Minas Gerais e Washington (EUA).
E a geometria sagrada do brasiliense Rubem Valentim está em outra das exposições na Semana da Semana da Consciência Negra. Entre as 60 obras, esculturas, pinturas e objetos mostram parte da simbologia do candomblé, das raízes afro-brasileiras, com um arrojado projeto construtivo que ele denominou "O Sentir Brasileiro é Universal".
Serviço:
"Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro" - Januário Garcia
Local: Fundação Cultural Palmares – 2ª a 6ª feira das 8h às 18h
Até dia 20.
"Cotas e Contas" - Maurício Pestana.
Local: Complexo Cultural do Ministério da Cultura – 2ª a 6ª feira das 10h às 18h
Até dia 28.
"Sagrada Geometria" – Rubem Valentim
Local: Museu da Câmara dos Deputados - 2ª a 6ª feira de 10h às 17h; sábado e domingo das 9h às 14h
Até dia 17.