Professor diz que desconhecimento pode levar à banalização da aids no país

17/11/2003 - 16h29

Rio, 17/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - O professor de oncologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Eduardo Cortes, disse que os dados apresentados pela pesquisa da BBC são preocupantes e mostram a total ignorância das pessoas em relação à aids. Segundo ele, esse desconhecimento pode levar à banalização da doença. "Com o fato das pessoas não terem informação, todo o escopo da gravidade da doença fica comprometido". Segundo a pesquisa da emissora, 61% dos brasileiros não acreditam que a aids e o HIV podem provocar a morte.

Para Cortes, o grau de informação do brasileiro está diminuindo. Ele conta que em 1991 uma pesquisa desse tipo foi realizada no país e a preocupação do brasileiro com a aids ficou em primeiro lugar. Na época, disse, a doença estava surgindo e só havia uma droga para o tratamento, a imprensa noticiava muito sobre a aids, o que dava mais informação. "Por que há 10 anos o grau de conhecimento era maior? A aids não mudou, ela continua sendo um enorme problema. Não só na área da saúde, mas também para a economia. Hoje o Brasil gasta milhões para tratar a doença."

A falta de investimento em educação e em campanhas preventivas são citadas pelo médico com fatores que levam a desinformação. Na sua opinião, as campanhas nacionais são episódicas, acontecem apenas em épocas de grandes festas, como o carnaval. "Há muito tempo não vejo campanhas maciças sobre aids no país. É preciso falar de aids o tempo todo, não de forma terrorista, mas dando informações aos jovens, as mulheres. As campanhas são importantes porque tratam de mudança de comportamento." Para ele, as campanhas não devem atingir apenas os grupos de risco, mas toda a população.

Apesar de elogiar o programa de combate à aids do Ministério da Saúde, Cortes disse que não atinge todos os níveis da sociedade. "É preciso ter a grandeza de tratar quem está doente, mas também manter bem informado aquele que ainda não tem a doença. É preciso informar ao jovem que é um transtorno ter a doença, ter que tomar remédios durante toda a vida". Eduardo Cortes sugere que pesquisas semelhantes a da BBC sejam feitas no país, para se avaliar em que faixa etária há maior desconhecimento.