Lula e Fernando Henrique têm ''encontro de velhos amigos''

15/11/2003 - 7h22

Milena Galdino

Repórter da Agência Brasil

Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), 15/11/2003 (Agência Brasil - ABr) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se encontraram durante 30 minutos na noite de ontem, no hotel em que estão hospedados. Ambos participam da 13ª Cúpula Ibero-americana. Antes do início da reunião, disse que seria "um encontro de velhos amigos", frase que Fernando Henrique repetiu após deixar a sala.

Segundo o ex-presidente, eles não falaram sobre política, mas Fernando Henrique disse que Lula não fará a reforma ministerial de maneira acelerada. "Ele não está na corrida para mudar os ministérios. Acho que vai depender muito do andamento das reformas, mas não vi no presidente Lula a vocação para cortar muita gente agora", avaliou o ex-presidente.

Ele disse ter conseguido o apoio do governo brasileiro em relação ao relatório que apresentará hoje em plenário. O documento, conhecido como Informe Cardoso, traz sugestões estratégicas para a Conferência Ibero-americana, grupo que reúne 21 países da América Latina e Caribe, além de Portugal e Espanha.

Fernando Henrique comandou o trabalho, mas ainda em outubro, ao apresentar uma versão prévia do informe aos ministros das Relações Exteriores de alguns dos países-membros, sentiu que nem tudo o que escreveu agradou. Os pontos mais questionados pelos países são a criação de uma secretaria permanente que, em tese, concentraria parte das negociações do bloco Ibero-americano, e a criação de uma agência de rating (que avalia os riscos de se emprestar dinheiro aos países-membros).

Na Conferência Ibero-americana, como em vários organismos multilaterais, vale o critério do consenso. É possível que Fernando Henrique encontre hoje uma resistência ao relatório, mas isso não quer dizer que mais tarde não seja aprovado. "É uma questão de se dar tempo aos países para que eles avaliem com calma a proposta", disse uma fonte do Itamaraty que pediu anonimato.

Os presidentes e primeiros-ministros passarão o dia de hoje em três reuniões de trabalho e, no final da tarde, assinarão a Declaração de Santa Cruz de la Sierra, documento que trará as conclusões do encontro. Nesta manhã, o presidente Lula toma café da manhã com o presidente do Chile, Ricardo Lagos, e com o colega mexicano, Vicente Fox.

Elogios

No primeiro dia da conferência, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, fez duas menções honrosas ao Brasil em seu discurso. Ao comentar os avanços sociais da América Latina, ele destacou o programa brasileiro Fome Zero. E ao falar da diversidade e da vitalidade da América Latina, citou o trabalho de Sérgio Vieira de Mello, o brasileiro representante das Nações Unidas no Iraque, morto em ataque em Bagdá em meados do ano.

A tribuna também foi ocupada, na cerimônia de abertura, pelo representante do Encontro Social Alternativo, um fórum paralelo à Cúpula que congrega vários movimentos sociais bolivianos e transnacionais. Em seu discurso, Carlos Eduardo Medina condenou a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) citando que, caso ela se concretize, trará mais pobreza aos países em desenvolvimento.

Medina também aproveitou para pedir ao presidente boliviano Carlos Mesa – que assumiu o governo em outubro, após a renúncia de Sánchez de Lozada – justiça aos mortos no conflito provocado pela decisão de venda de gás aos Estados Unidos, idéia mais tarde abandonada pelo governo.