Egito quer Brasil mais próximo

15/11/2003 - 9h05

Informações da Agência Anba

São Paulo - No campo diplomático, o relacionamento entre o Brasil e o Egito tem sido próximo e afinado. Em termos comerciais, porém, o potencial é pouco aproveitado, acredita o embaixador brasileiro no Egito, Celso Marcos Vieira de Souza. "É justíssimo prever que as trocas podem aumentar", afirmou, em entrevista à ANBA, do Cairo, por telefone.

Para a embaixadora egípcia em Brasília, Shadia Hussein Fahmy Farrag, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, programada para os dias 8 e 9 de dezembro, deve dar novo fôlego a esse relacionamento. "A visita irá fortalecer as já excelentes relações econômicas, políticas e culturais entre os parceiros", disse, por e-mail, a diplomata.

O Egito é um dos países árabes de maior peso político na região: participa ativamente de organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), e abriga a sede da Liga Árabe, principal fórum de representação dos 22 governos árabes do Oriente Médio e Norte da África.

Em relação ao Brasil, o Egito mantém posição favorável: apóia a política externa do país e faz parte, por exemplo, do G-20, grupo de nações em desenvolvimento liderado pelo Brasil e pela Índia para combater o protecionismo agrícola.

"Não impressiona"

Como ocorre com muitos países árabes, porém, a proximidade política e diplomática e a existência de "uma grande simpatia pelo Brasil" - como faz questão de frisar Vieira de Souza - são acompanhadas por um volume de comércio bilateral pequeno. No ano passado, a corrente comercial entre os dois países somou US$ 410 milhões.

"Não é um comércio que impressiona pelo volume", admite o diplomata. "Mas é importante lembrar que o Egito não é grande produtor de petróleo", pondera. As reservas do país estão estimadas em cerca de 3,3 bilhões de barris - menos da metade do total do Brasil, por exemplo. Por isso, ao contrário do que acontece com muitos países árabes, as exportações do Egito para o mercado brasileiro acabam sendo pequenas. Em 2002, ficaram em apenas US$ 25 milhões.

O volume vendido pelo Brasil ao país africano, no entanto, é bem maior: chegou a US$ 385 milhões. Com isso, o Egito é o terceiro maior destino no mundo árabe para os produtos brasileiros - os dois primeiros são os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita.

Vieira de Souza acredita que as trocas podem crescer nos produtos já comercializados pelos parceiros. Para ele, "a pauta é diversificada". O Brasil vende ao Egito principalmente minério de ferro, açúcar, automóveis, motores, autopeças e, nos últimos anos, começou a exportar também carne, em razão da doença da "vaca louca" e da febre aftosa, que atingiram os rebanhos de diversos países.

As importações brasileiras concentram-se em fertilizantes, algodão e produtos químicos, segundo o embaixador. Fahmy Farrag, no entanto, acredita que o Egito também pode vender móveis, produtos têxteis, farmacêuticos e petroquímicos ao Brasil.

Apesar do volume reduzido, algum crescimento de comércio entre os parceiros já foi observado neste ano. De janeiro a setembro, as exportações do Brasil para o mercado egípcio aumentaram 30% e as importações, 23%, em relação ao mesmo período de 2002. A expectativa dos embaixadores é de que a visita de Lula melhore ainda mais esses números.

Turismo e acordos

Para Vieira de Souza, outro setor que pode ser mais desenvolvido entre os dois países é o de turismo. "O turismo brasileiro no Egito pode crescer muito", acredita. No ano passado, por exemplo, de acordo com dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), o Egito foi o primeiro destino de 1,6 milhão de viajantes brasileiros, enquanto países como China e Austrália receberam o dobro de visitantes.

Segundo o embaixador, existem acordos de cooperação bilateral sendo finalizados para serem discutidos entre Lula e o presidente do Egito, Hosni Mubarak. Ele preferiu não dar detalhes - "ainda não estão prontos", justificou -, mas afirmou que os acertos serão parte de um programa maior, que vai estabelecer um contato mais próximo entre os países.

"Esses acontecimentos são relevantes só pela presença de dois chefes de Estado. É um marco, que vai criar a possibilidade de um contato cada vez mais estreito", avalia Souza. Fahmy Farrag lembrou que é a primeira vez que um chefe de Estado brasileiro visita o Egito em 127 anos - o último foi D. Pedro II.

Os embaixadores também elogiaram a iniciativa de Lula de promover a primeira reunião de cúpula entre chefes de Estado de países árabes e sul-americanos, prevista para acontecer em 2004.

Segundo Fahmy Farrag, "o Egito recebeu muito bem a idéia e irá discutir os detalhes do encontro durante a visita do presidente Lula ao Cairo".