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Frederick Banting
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Brasília, 13/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - Amanhã, quando se comemora o Dia Mundial de Diabetes, as manifestações não devem ser efusivas. A doença, que se não tratada e bem controlada, acaba resultando em graves lesões no coração, no cérebro, na visão e no sistema linfático, entre outros, já atinge mais de 190 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 5 milhões só no Brasil. A escolha da data é uma homenagem ao aniversário de Frederick Banting, responsável junto com Charles Best, pela descoberta da insulina em outubro de 1921. A data é lembrada desde 1991 com o objetivo de aumentar a conscientização de todos os países a respeito da doença.
O diabetes é um distúrbio do metabolismo que afeta primeiramente o equiulíbrio dos açúcares (glicose e outros) no organismo, mas que também tem repercussões importantes sobre o metabolismo das gorduras (lipides) e das proteínas. Sua característica fundamental é a hiperglicemia (aumento de açúcar no sangue). A hiperglicemia e outros desarranjos bioquímicos advêm da secreção ou atividade reduzida da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas importante na regulação do metabolismo glicídio, lipídico e protéico.
Segundo o endocrinologista Severino Farias, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (Sben), em Salvador (BA), especialista em diabetes, existem dois tipos da doença. A chamada de tipo 1 é causada pela deficiência na produção de insulina e se inicia, geralmente, na infância. A classificada como tipo 2 é a mais comum. Normalmente se manifesta depois dos 40 anos e em indivíduos obesos, tem uma forte relação com o ambiente (dieta e atividade física) e se caracteriza por graus variados de resistência insulínica e/ou secreção inadequada da insulina.
Ligado a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o endocrinologista, Antônio Chacra, acrescenta que a diabetes do tipo 1 sempre necessita de insulina. E o tipo 2 tem um componente familiar que pode se manifestar ao longo da vida devido os fatores de risco (obesidade, stress, sedentarismo). Ele cita como exemplo uma pessoa gorda, que não faz atividades físicas e tem na família um histórico de diabetes, "provavelmente essa pessoa terá diabetes", explica.
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Charles Best
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A freqüência do distúrbio tem aumentado rapidamente no mundo nos últimos anos, de acordo com a observação dos especialistas. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que a doença é epidêmica. As estatísticas apontam que hoje o número de pessoas com a enferrmidade no mundo se aproxima de 190 milhões e deve se multiplicar até 2025, chegando aos 330 milhões. No Brasil, em 2001 existiam 5 milhões de diabéticos, a estimativa revela que em 2025 eles serão 11,6 milhões.
Para os médicos, o crescimento das estatísticas da doença se deve ás mudanças nos hábitos e ao estilo de vida incoporados ao cotidiano das pesoas nas últimas décadas. No caso das crianças Farias lembra que elas "não brinca mais na rua de queimada, pique-pega, não sobem mais em árvores. Passam o dia em frente a televisão e ao computador, comendo besteiras e acumulando calorias". Chacra, por sua vez, reforça que "a obesidade é o principal fator dessa doença e tem crescido muito entre as crianças", constatação que é motivo de apreensão por médicos de vários países.
Chacra esclarece que a diabetes do tipo 2 é que está crescendo muito entre os adolescentes, principalmente nos Estados Unidos. "Por enquanto, no Brasil, na nossa percepção, essa epidemia não ocorre com os jovens na mesma intensidade", diz. Por ser uma doença crônica, a diabetes não tem cura. Para melhorar a qualidade de vida das pessoas portadoras da disfunção é necessário uma reestruturação no hábito alimentar, para assim impedir a obesidade, um dos grandes vilões. "O diabético só precisa ter disciplina e praticar atividades físicas. Os exercícios físicos só perdem, em termo de importância, para a insulina", explica Farias. "A diabetes é uma doença que pode ser prevenida", completa Chacra.
O diagnóstico dos diabetes é feito pelo resultado da glicemia da pessoa em jejum igual ou maior que 126 mg/dl em duas ocasiões, ou quando, durante o teste oral de tolerância à glicose, encontram-se duas ou mais amostras com valor superior a 200 mg/dl, sendo uma delas obtidas duas horas após a ingestão do açúcar. "Hoje, 50% dos diabéticos não sabem que têm a doença. Com isso, não cuidam, não mantêm um controle adequado, não vão ao médico regularmente e ficam predispostos a uma série de outros problemas, cmo os cardiovasculares", comenta Farias.
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Kit para tratar diabetes
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No diabetes, manter a saúde é controlar o nível de glicose no sangue (glicemia). Para que se tenha um parâmetro, a taxa de glicemia considerada normal de uma pessoa que não tem a disfunção, antes de uma refeição, é de 70 a 110 mg/dl.
Uma outra ocorrência do diabetes é quando ela surge apenas na gravidez, quando é denominada de diabetes gestacional. "A glicemia da mãe aumenta e a glicose passa pela placenta, mas não a insulina. O pâncreas do bebe produz mais insulina, pois percebe que a glicemia aumentou e pega esta e transforma em gordura. Como consequência, o bebe nasce com peso elevado, de quatro quilos para cima. Mas isso não quer dizer que o bebe nasça necessariamente com o diabetes", explica Chacra.
De acordo com Farias, a melhor prevenção é vacinar as crianças para todos os tipos de viroses típicas da infância e o principal, prevenir a obesidade infantil. "A população precisa se conscientizar dos males do excesso de peso e da falta de atividades físicas, pois além de prevenir a diabetes, irão prevenir outras doenças graves. Todo ser humano precisa praticar atividades físicas", sentencia.
Para os portadores da enfermidade de qualquer faixa etária e sem distinção de classe socioeconômica, a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), de São Paulo, presta atendimento gratuito por meio do trabalho integrado de uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, nutricionistas, enfermeiras e voluntários.
As pessoas que se associam a ADJ pagam uma taxa simbólica. Em contrapartida a entidade mantém um centro educacional para atendimento à população por meio da promoção de encontros de familiares e portadores da disfunção, cursos, palestras, passeios, entre outras atividades. Dispõe ainda de alguns produtos para o tratamento e controle da doença e edita trimestralmente o jornal "Novos Horizontes", que leva ao associado informações sobre novos tratamentos, produtos e serviços. Para participar da ADJ basta ligar para o telefone (11) 3675.3266 ou se inscrever pelo site www.adj.org.br.