Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de sete dias de viagem pela continente africano, onde visitou cinco países desde o último sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que deixa a África com a "alma mais limpa e a sensação do dever cumprido". Lula garantiu que conseguiu colocar em prática a promessa de campanha de intensificar as relações do Brasil com a África. "Fiquei muito feliz quando o nosso embaixador nos comunicou que, em 11 meses de governo, vieram mais ministros e personalidades brasileiras que nos últimos quatro anos que me antecederam", afirmou.
O presidente ressaltou que o governo brasileiro está fazendo o que acreditava "antes, durante e depois" da campanha eleitoral no campo internacional. E prometeu que vai continuar com o trabalho de aproximar do Brasil mercados importantes para a economia do país, como a Índia, a China e a Rússia. "Nesse mundo em que os países já têm suas cartas marcadas e o domínio das coisas importantes que valem no mercado, é extremamente saudável, e política e economicamente correto, que juntemos todos os países que têm similaridade e, juntos, procuremos estabelecer ação para fazer valer os interesses dos países em desenvolvimento", ressaltou.
Lula voltou a criticar o protecionismo de países desenvolvidos ao discursar ao lado do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki. Segundo o presidente brasileiro, é essencial que os países em desenvolvimento se unam para garantir, junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), as mesmas oportunidades de negociação alcançadas pelos países ricos. "Nós não queremos hegemonia em nenhuma hipótese. Para nós, uma boa relação comercial pressupõe que um país não tenha grande superávit comercial sobre outros, que um país não queira apenas vender, mas também se disponha a comprar. Para que a troca se dê de forma justa e compensadora para todos os empresários, para os trabalhadores e para os governos", afirmou.
O presidente citou um trecho de uma música do cantor Raul Seixas, de quem Lula revelou ter "profunda admiração", para resumir o seu sentimento com relação à acolhida na África do Sul. "Sonho que se sonha só é apenas um sonho, mas sonho que se sonha coletivamente vira realidade. E nós estamos transformando em realidade o fato de termos os países do Terceiro Mundo, os países do Sul, e a África e o Brasil, em realidade política, econômica, e da ciência e tecnologia, e no bom entrosamento do povo brasileiro tem com o povo da África do Sul".
Lula também utilizou mais uma metáfora depois de ser questionado, por um jornalista brasileiro, sobre o pouco tempo em que permaneceu em cada um dos países africanos. Lula disse que, antigamente, só comprava no supermercado laranjas e morangos grandes. Com o tempo, o presidente disse que aprendeu que nem sempre as maiores frutas eram as de melhor qualidade. "Os melhores perfumes são os de menor frasco. Aprendi também que a gente não compra perfume por litro. Confesso que gostaria de vir à África do Sul passar uma semana. Mas eu duvido que em uma reunião de 50 horas produziríamos mais do que nas poucas horas que produzimos aqui", respondeu.
Bem-humorado, Lula despediu-se dos sul-africanos com o "até logo" em um dos dialetos locais. O presidente também brincou com os jornalistas depois que o presidente Thabo Mbeki desculpou-se por ter deixado a imprensa esperando, no sol, pelo pronunciamento dos dois presidentes. "Se nós soubéssemos antes e tivéssemos oferecido para a imprensa uma piscina, eles nem estariam se lembrando de nós", brincou Lula.
De acordo com o presidente sul-africano, as audiências com o presidente brasileiro atrasaram porque Lula estava interessado em entender, detalhadamente, todos os pontos da cooperação firmada com a África do Sul para transformá-los em ações práticas.