Problemas sociais e a condição feminina eram temas recorrentes na obra de Rachel

04/11/2003 - 12h23

Rio, 4/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - A literatura brasileira perdeu hoje um de seus maiores nomes, com a morte da escritora Rachel de Queiroz, que completaria 93 anos no próximo dia 17. A escritora, que sofrera recentemente um acidente vascular cerebral, morreu de madrugada, em sua casa, no bairro do Leblon, enquanto dormia. De personalidade forte, sempre de olho nos problemas sociais do país e na condição feminina, Rachel manteve grandes amigos, dentro e fora da profissão e de opinões diferentes, como o general Castelo Branco, ex-presidente da República.

O corpo da escritora está sendo velado no Salão dos Poetas Românticos, na sede da Academia Brasileira de Letras, no centro. O enterro será amanhã (5), às 9 horas, no Cemitério São João Batista.

Rachel de Queiroz foi a primeira escritora a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Eleita em 4 de agosto de 1977 para a Cadeira nº 5, antes ocupada por Cândido Mota Filho, Rachel nasceu em Fortaleza, em 17 de novembro de 1910, e foi cronista, jornalista, romancista e teatróloga.

De tradicional família cearense, a escritora era filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, e parente, pelo materno, do escritor José de Alencar, autor de "O Guarani". Do lado paterno, os Queiroz eram tradicionais nas regiões de Quixadá e Beberibe. Mas a grande seca de 1915 obrigou a família a deixar o Nordeste, vindo para o Rio de janeiro em 1917. Os problemas causados pela seca seriam retratados por Rachel no seu livro de estréia, "O Quinze", publicado aos 20 anos de idade. O livro teve grande repercussão por ter fundo social, com a luta do povo contra a miséria.

A família de Rachel ficou pouco tempo no Rio, mudando-se para Belém do Pará e, depois, regressando a Fortaleza, onde Rachel se formou, aos 15 anos, no curso normal. Ao longo de sua vida, publicou 19 romances, entre eles, "João Miguel" (1932), "Caminho de Pedras" (1937) e "As Três Marias" (1939). Escreveu peças para o teatro, como "Lampião" (1953) e "A beata Maria do Egito" (1958), mas supreendeu ao lançar, aos 80 anos, o romance "Memorial de Maria Moura", considerado uma obra-prima, onde a escritora mais uma vez consagra um personagem feminino na luta contra a opressão.

Além dos livros e das peças, Rachel contribuiu para formar opinião, escrevendo ao longo de 50 anos artigos sobre o que se passava no Brasil e no mundo para jornais e revistas, como "O Diário de Notícias", "O Jornal", "O Cruzeiro" e "O Estado de São Paulo".