Lula garante que financiamentos do BNDES na África não prejudicarão investimentos no Brasil

04/11/2003 - 18h25

Spensy Pimentel
Enviado especial à África

Luanda (Angola) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje a atuação internacional de instituições públicas brasileiras no financiamento de obras de infra-estrutura e investimentos de empresas nacionais no exterior: "Essa é a parte da reciprocidade que um país tem que ter com os seus irmãos. Não atrapalha em nenhum momento qualquer investimento que tenhamos que
fazer internamente no Brasil. Até porque o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) empresta dinheiro para projetos da iniciativa privada.

Quanto mais demanda tiver, mais o banco pode captar recursos para fazer essa política". O presidente fez as declarações em entrevista coletiva conjunta com o presidente angolano em Luanda, antes de embarcar para Moçambique, terceiro dos cinco países africanos
que Lula visitará até sábado.

O presidente brasileiro anunciou ontem em Angola que o BNDES vai financiar investimentos brasileiros no país africano, principalmente na reconstrução do país, que encerrou no ano passado uma série de conflitos que já durava 41 anos. O banco confirmou que a possibilidade será estendida a investimentos de projetos brasileiros nos demais países africanos de língua
portuguesa.

Lula revelou intenção de estender à África iniciativas planejadas nesse âmbito pelos países sul-americanos. "Nós estamos com uma preocupação desde o encontro que fizemos em Cuzco, do Grupo do Rio, de tentarmos criar uma instituição financeira que possa ser sul-americana. Isso pode ser estendido, se essa experiência der certo, aos países da África, porque
precisamos de instituições financeiras para financiar o desenvolvimento e a infra-estrutura desses países", afirmou.

Na opinião do presidente, a estratégia visa a diversificar a oferta de crédito para esse tipo de
iniciativa. "Não podemos ficar dependendo apenas do dinheiro do Banco Mundial. É importante, mas não dá para tudo. Acho que há uma necessidade hoje expressa de que precisamos criar outras fontes de financiamento e eu acho que vamos criá-las. Estou convencido de que, num curto espaço de tempo, nós teremos mais recursos para financiar a infra-estrutura dos países em
desenvolvimento".

Lula revelou, também, que essa iniciativa, no âmbito latino-americano, pode envolver uma parceria com a iniciativa privada. "Esses dias recebi no meu gabinete o empresário mais rico da América Latina, Carlos Slim (dono do grupo Carso, que, por sua vez, controla a
Telmex e, no Brasil, as empresas de telefonia celular Claro). Ele está com uma idéia de propor aos países da América Latina a criação de uma instituição financeira público-privada, ou seja, para poder ajudar no financiamento de obras de infra-estrutura de integração regional".

Para o presidente, a necessidade de novas idéias nessa área tem um contexto histórico. "Estamos no num novo século, num novo milênio. Não precisamos ficar
repetindo tudo o que foi feito no século passado. Temos que tentar fazer coisas novas, criar coisas novas, instituições novas, para que a gente possa ter o dinheiro necessário para gerar outro dinheiro para o crescimento da nossa economia e da economia dos países
pobres".

Lula reiterou que o apoio dos países ricos ao desenvolvimento dos pobres é urgente. "No discurso que fiz na Organização das Nações Unidas (ONU), fiz questão de afirmar que o nome da paz que todo o mundo deseja é ‘justiça social’. No dia em que tivermos justiça social, vamos conseguir criar as condições para ajudar o desenvolvimento", disse ele, em referência a sua participação na abertura dos trabalhos da Assembléia Geral das Nações Unidas, em setembro.