Imprensa africana acompanha de perto a visita de Lula

03/11/2003 - 11h36

Milena Galdino
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Jornais, rádios e sites de todo o continente africano acompanham de perto a visita do presidente Lula da Silva a cinco países – São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia e África do Sul. Na comitiva há ministros de Estado, parlamentares e 160 empresários. O peso da delegação brasileira tornou claro que a viagem oficial marca uma nova etapa de integração entre o Brasil e o continente.

O site Visão News, um dos mais completos sobre África, sublinha que serão assinados mais de 40 acordos em tecnologia de educação, saúde, agricultura, defesa naval e petróleo. "A aproximação com a África fortalece a política externa brasileira e a cooperação Sul-Sul, uma forma de buscar alianças e reforços nos países pobres ou em vias de desenvolvimento para ocupar um espaço de liderança no mundo", diz o editorial, sem esconder que a viagem do presidente brasileiro faz parte da estratégia do governo de reforçar sua posição de líder de países em desenvolvimento.

Visão News destaca que no plano econômico, o presidente brasileiro discute a exploração de carvão em Moçambique e a defesa naval da Namíbia. "A intenção do Brasil é abrir mercados, empurrar empresas brasileiras para a África e atrair produtos africanos para o Brasil", prevê o site.

Citando o embaixador Pedro Motta Coelho, diretor do Departamento da África do Ministério das Relações Exteriores, o editorial sustenta que o volume de trocas comerciais – avaliado, nos nove primeiros meses deste ano, em U$ 2,1 milhões em exportações do Brasil para África e US$ 2,4 milhões de exportações da África para o Brasil – ainda é reduzido frente ao potencial dos mercados brasileiro e africano. "É possível aumentar a exportação de bens e serviços", declarou o embaixador à imprensa africana.

Todos os veículos de comunicação que noticiam a visita presidencial chamam a atenção dos leitores para a comitiva de empresários – cerca de 160 pessoas. O site Notícias Lusófonas, que abrange toda a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, destaca a participação de executivos da Companhia Vale do Rio Doce, que pretende explorar as minas de carvão de Moatize, em Moçambique, num investimento de aproximadamente US$ 300 milhões.

Eles também não descartam a possibilidade de se construir uma hidroelétrica no vale do rio Zambeze, em Angola. "A representação empresarial brasileira abrange, ainda, as áreas da construção civil, setor mobiliário, agro-indústria, maquinaria, defesa, equipamento hospitalar e automóveis. A instalação em Moçambique de uma fábrica de medicamentos anti-retrovirais de combate ao HIV/Sida é outro dos investimentos aguardados com expectativa em Moçambique", afirma a matéria do Notícias. Para instalar a fábrica, em parceria com o laboratório brasileiro Far-manguinhos, a sugestão mais concreta é a de se utilizar o resíduo de dívida de Moçambique com o Brasil, mas dificuldades técnicas podem desanimar os negociadores brasileiros.

Outro destaque do Notícias Lusófonas é para a área de acordos políticos, já que a África do Sul, último dos países a ser visitado, liderou com o Brasil e com a Índia o grupo de países agrícolas em desenvolvimento que brigou pela quebra das barreiras tarifárias na Organização Mundial do Comércio, em setembro. "O chamado G-3 pretende ser um modelo de cooperação entre países em desenvolvimento, concretizando parcerias em âmbito trilateral em diversas áreas, como ciência e tecnologia, defesa, transportes aéreo e marítimo, saúde, comércio e combate à fome", diz o Notícias Lusófonas.

Já a agência Angola Press traz, em sua página de hoje, um apanhado do conjunto de acordos bilaterais de Brasil e Angola em agricultura, juventude e desportos, ciência e tecnologia, trabalho, emprego e formação profissional, educação, formação de quadros da administração local e do urbanismo e ambiente.

Mas não só a imprensa africana está interessada na primeira visita oficial de Lula à África. A londrina BBC fala da viagem como sendo a volta do Brasil às suas origens, já que de cada três negros saídos como escravos do continente, um veio para o País. Não por acaso, aliás, hoje o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo, depois de Nigéria.