Representante norte-americano prefere negociações multilaterais a bilaterais na Alca

21/10/2003 - 11h40

Brasília, 21/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - O vice-representante de Comércio dos Estados Unidos, Peter Allgeier, demonstrou hoje que o governo norte-americano não pretende desistir de um acordo abrangente para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Segundo ele, os americanos querem a inclusão no acordo de nove áreas: agricultura, serviços, investimentos, acesso a mercados e bens industriais, propriedade intelectual, política de concorrência, medidas antidumping e subsídios, solução de controvérsias e compras governamentais. "Defendemos que o acordo deve cobrir as nove áreas que têm feito parte das negociações desde o início", disse Allgeier em Brasília.

Ele também disse que os EUA nunca propuseram a retirada das negociações dos temas agrícolas e antidumping. Ele, porém, fez questão de ressaltar que quanto aos subsídios à exportação de produtos agrícolas, a posição americana é de que devem ser eliminados em nível mundial, inclusive com mecanismos de defesa em relação aos produtos subsidiados da União Européia.

Outro ponto defendido pelo vice-representante de comércio é que o acordo deve ser multilateral, entre os 34 países, e não uma série de acordos bilaterais com diferentes regras sob a proteção da Alca, como alguns técnicos têm defendido dentro do Mercosul.

"Será melhor que todos os países assinem o acordo em janeiro de 2005, mas também é um direito o fato de alguém querer ficar de fora da Alca", afirmou ao ser questionado sobre as conseqüências para quem rejeitar o acordo de livre comércio no hemisfério.

Peter Allgeir disse também que o governo FHC atuava mais "confortavelmente" sobre temas ligados à Alca, ao se referir as posições do governo Lula. Ele, porém, fez questão de deixar claro que na ótica americana o Acordo de Livre Comércio das Américas não tira a soberania dos países em algumas áreas e nem o potencial para o desenvolvimento, como dizem os brasileiros.

Allgeir citou o exemplo do México, para quem o Nafta (zona de livre comércio entre os países da América do Norte) tem sido uma experiência extremamente positiva sem abrir mão da soberania. "Eles estão mais ricos", disse, e questionou: "Quem tem mais independência, um país que compra US$ 97 bilhões dos americanos, como o México, ou um que compra US$ 12 bilhões, como o Brasil?"

O vice-representante de comércio dos EUA quis deixar claro que a flexibilização da área de serviços pode trazer desvantagens para os brasileiros já que este é um setor de enorme potencial para os países em desenvolvimento.

Segundo ele, só no ano passado, no comércio de serviços entre os dois países, os americanos exportaram para o Brasil US$ 13 bilhões. Enquanto o Brasil só exportou US$ 200 milhões para os EUA. Uma enorme diferença mesmo se for levando em conta o tamanho das duas economias.

Allgeir, que veio ao veio ao Brasil para participar, em Brasília, do seminário sobre "O Papel dos Legisladores na Alca", organizado pelo Parlamento Latino-Americano (Parlatino) e pelo Congresso Nacional, afirmou ainda reconhecer que várias questões são sensíveis para o Brasil, mas destacou que inclusão dos temas como regras para investimentos e serviços é a saída para tornar a Alca consistente com a realidade atual do mundo dos negócios.

O Brasil e Estados Unidos, que dividem a presidência da Alca, têm sérias divergências sobre os temas do acordo. Tanto é que o secretário-executivo da Camex, Mário Mugnaini, anunciou, ontem, que a Camex prepara uma reunião extraordinária para discutir a posição do Brasil na Alca - Área de Livre Comércio das Américas, antes da reunião de Miami, a ser realizada em novembro.

O encontro especial da Camex terá a participação do presidente Lula e não tem dada marcada, mas deverá ser realizada até o dia 14 de novembro, quando começa o encontro de Miami, nos Estados Unidos, para tratar do tema. A implantação da Alca está prevista para janeiro de 2005.