Brasília, 21/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Os Estados Unidos buscarão fazer tudo para que o Brasil esteja integrado à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). "Se não for possível, buscaremos a liberalização com os países que estiverem dispostos a fazer o acordo". O recado foi dado hoje pelo co-presidente do Processo Negociado da Alca pelos Estados Unidos, embaixador Peter Allgeier. Ele participou, no Congresso, do Encontro Parlamentar sobre a Alca que ocorre desde ontem.
No seu pronunciamento, Allgeier reafirmou que a Organização Mundial do Comércio (OMC) é o melhor fórum para a discussão dos subsídios concedidos pelo seu país a setores da economia, principalmente à agricultura. Esses subsídios são uma das principais causas de entraves no processo de discussão da Alca. O embaixador também defendeu a obediência à lei de patentes e à propriedade intelectual. "Isso representa um sinal de que o direito dos investidores será preservado", afirmou.
Quanto às discussões, no âmbito da Alca, de legislações trabalhistas e ambientais, Peter Allgeier disse que "para que não haja confusão o melhor seria que cada país aplicasse suas próprias leis". Condenou ainda as tarifas cobradas sobre produtos importados. Segundo ele, estas tarifas atingem, quase sempre, o cidadão mais pobre. Citou, por exemplo, a alíquota de 27% cobrada sobre o leite em pó.
Coube ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores, fazer o contra-ponto ao norte-americano. Muito bem humorado, o parlamentar manifestou o seu desejo de ver, um dia, as Américas integradas, desde o Alasca até a Patagônia. No entanto, deve haver uma real integração e não apenas acordos de livre comércio, destacou.
Suplicy lembrou recente manifestação do presidente dos EUA, George W. Bush, contra a construção, pelo governo de Israel, de um muro separando o país da Cisjordânia. Neste sentido, o parlamentar brasileiro questionou se não caberia, também, ao presidente norte-americano acabar com o muro que separa o sul dos Estados Unidos da América Latina.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado levantou, ainda, as grandes distorções entre as economias dos países latino-americanos e dos Estados Unidos. Neste sentido, citou a necessidade de se analisar questões como desenvolvimento tecnológico, capacidade e acesso de empresas a financiamentos. Enquanto as empresas americanas recebem empréstimos a juros baixos, no Brasil, o sistema financeiro cobra juros inviáveis ao desenvolvimento, argumentou o senador.
Suplicy lembrou que os norte-americanos desenvolveram sua economia a custa de uma forte proteção à indústria nacional. "Se um dia tivermos a Alca, espero que ela represente a divisão de riquezas de todos os países do Continente, inclusive Cuba", afirmou o senador.