Especialistas discutem a igualdade entre homens e mulheres sob a ótica masculina

21/10/2003 - 12h58

Milena Galdino
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Começou hoje, em Brasília, a reunião preparatória da 48ª Sessão da Comissão sobre a situação da Mulher, que acontece em 2004 nos Estados Unidos. Especialistas vindos dos cinco continentes discutem a igualdade entre homens e mulheres sob a ótica masculina. "O tema, que traz à luz o papel dos garotos e dos homens no respeito aos direitos femininos, desafia a uma mudança no exemplo e nas atitudes de jovens pais que educam seus filhos homens. Isso porque eles devem mostrar que o respeito às conquistas femininas não é apenas uma responsabilidade, mas, sobretudo, um privilégio", apontou Carolyn Hannan, diretora da Divisão das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher.

Segundo Hannan, o mundo inteiro passa por transformações nas formas de tratar as discussões sobre os gêneros. "Em alguns países, a igualdade dos sexos avança a passos largos, mas em outros as conquistas femininas ainda percorrerão um árduo caminho", prevê, destacando que no Brasil a situação está cada vez melhor. "São louváveis as ações do governo no âmbito das Secretarias Especiais de Políticas para as Mulheres e de Promoção da Igualdade Racial", destacou a palestrante sueca.

Emília Fernandes, secretária de Políticas para as Mulheres, ressalta que a transformação na consciência masculina proposta pelo seminário é uma semente que mais tarde dará frutos dentro da família e nas relações de trabalho. "Dentro das escolas e das famílias ainda existe uma grande diferenciação sobre os papéis dos homens e das mulheres, seja nos livros escolares, seja na divisão de tarefas domésticas. As mudanças começam desde cedo, na educação de meninos e meninas", acredita Emília Fernandes.

Nova ordem social

"A idéia de ainda se dividir as tarefas por gênero é retrógrada e conservadora. A sociedade brasileira é aberta e democrática, e por isso é preciso que as relações de gênero acompanhem essas mudanças", comentou o embaixador Tadeu Valadares, do Ministério das Relações Exteriores. "Aos homens e aos meninos cabe a tarefa de transformar as tradições e costumes preconceituosos em passado", disse o representante do Itamaraty.

Na avaliação da ministra Matilde Ribeiro, da Promoção de Igualdade Racial, o seminário deve trabalhar o tema das mulheres em conjunto com as discriminações raciais. "A mulher que é negra geralmente é mais pobre do que a mulher branca e do que o homem negro", comparou.

Uma das questões a serem analisadas com profundidade pelos especialistas que estão em Brasília é a da Aids. "A epidemia atinge hoje 42 milhões de pessoas no mundo, sendo que 2002 foi o primeiro ano em que o número de mulheres e meninas infectadas foi maior do que o contágio global de homens", advertiu Bertil Lindblad, representante do Programa das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids).

Lindblad colocou que um dos maiores desafios dos organismos que lutam pela igualdade de gêneros é garantir que as mulheres tenham as mesmas condições de acesso a campanhas de prevenção e a medicamentos de combate ao vírus que os homens. "Em um terço dos países, o acesso das mulheres aos medicamentos é bem mais difícil, o que não faz sentido já que as mulheres são a metade do total de infectados pelo vírus", sustentou o representante da Unaids.

O encontro segue até sexta-feira no auditório do Instituto Rio Branco, próximo ao Ministério das Relações Exteriores. De lá sairá um documento com as recomendações para acabar com as desigualdades entre os sexos e as conclusões serão incluídas no relatório da Secretaria Geral das Nações Unidas.