Eduardo Mamcasz
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A promessa do Secretário Nacional de Direitos Humanos, ministro Nilmário Miranda, de que irá empenhar-se para que os adolescentes do Brasil tenham presença, com direito a voto, nos Conselhos de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis, é o assunto principal do programa Expresão Jovem, gravado na Radiobrás por um grupo de menores em situação de carência social vindos de seis estados do país. A Cáritas Brasileira conseguiu que eles passassem quatro dias em Brasília para conhecer o Centro do Poder e participar de uma oficina de comunicação em rádio. O Programa será transformado em CD para que os adolescentes façam a distribuição nas rádios comunitárias de suas comunidades de origem. Eles vieram da Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Minas Gerais e Sergipe.
"É muito melhor ter a gente representando a nós mesmos nesses conselhos do que os adultos defendendo", afirmou Leilane Cunha, 17 anos, de Aracaju (SE), em entrevista ao programa Revista Amazônia, da Rádio Nacional da Amazônia. Ela garantiu que, caso seja a escolhida para falar na próxima reunião do Conselho Nacional da Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, conforme ficou acertado na reunião com o ministro Nilmário Miranda, defenderá a necessidade "dos meninos e meninas de rua terem um local para se abrigar", uma espécie de albergue junvenil, onde poderiam passar as noites e também estudar. Um menino e uma menina serão escolhidos entre os 360 adolescentes que participam do programa.
Durante a visita do projeto Participação dos Adolescentes na Gestão de Políticas Públicas ao ministro Nilmário Miranda, onde foi gravada a entrevista para o Jovem Expressão, Leilane Cunha disse que perguntou a posição do ministro quanto ao melhor ataque "à causa da violência sexual infanto-juvenil no Brasil". Nilmário Miranda respondeu que o caminho principal passa pela "preparação e capacitação dos professores para que saibam tratar melhor desse assunto". Também falou no, Revista Amazônia, Valdirene Diniz da Silva, 17 anos, de Viana, no interior do Maranhão. Ela garantiu que, se for a escolhida para falar na reunião nacional já tem o discurso na ponta da língua: "Vou defender a situação dos alunos que não podem frequentar as escolas porque precisam trabalhar para ajudar a família", diz.
A jovem entende que a participação, com direito a voz, do adolescente no conselho é muito importante porque, segundo ela, "depois que a gente aprender a reivindicar nossos direitos, só assim os adultos terão a consciência do que a gente realmente precisa". No que diz respeito ao trabalho infantil, Valdirene afirma ser comum, "na roça e nas ruas" do Maranhão. Já Leilane lembra que "ainda existem muitas crianças do Sergipe trabalhando no corte de cana-de-açúcar porque as famílias precisam do dinheiro".
A jornalista Ana Célia Florêncio, da Cáritas de Pernambuco, que acompanhou o grupo de adolescentes nesta viagem a Brasília, reforça que foram escolhidos por eles mesmos, nos seis Estados onde o Programa está em funcionamento, com 60 menores em cada um, em média. O programa é realizado pela Cáritas Brasileira, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e conta com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Caixa Econômica Federal. O programa de rádio Jovem Expressão é veiculado pelas emissoras da Rede Católica, "com a participação de uma série de rádios comunitárias e emissoras locais, num trabalho de conquista de espaço feito pelos próprios adolescentes" completou Ana Célia.
A base do programa que foi gravado e editado na Radiobrás é a entrevista que os adolescentes fizeram com Nilmário Miranda. Além disso, eles mesmos explicam como funciona um Conselho da Criança e do Adolescente, o que são Políticas Públicas, e como é possível mudar a realidade da comunidade em que eles vivem. "Primeiro, é preciso uma participação maior dos adolescentes e para isso é importante que todos tenham uma clareza maior da realidade, para que possam formar uma opinião certa e com isso passem a reivindicar", completa Valdirene Diniz da Silva, do Maranhão.
Ao final da entrevista ao Revista Amazônia, Leilane Cunha, de Sergipe, lembrou que o direito dos adolescentes se expressarem está dentro do Estatuto da Criança e do Adolescente e que por isso, completou, "é preciso ir à luta, juntar os amigos, reivindicar nossos direitos, até mesmo porque muitos deles ainda estão só no papel". Neste fim de semana eles retornarão para suas comunidades, todas carentes, onde contarão aos que ficaram o que aprenderam com esta viagem a Brasília. A intenção, segundo os organizadores, é justamente a de que eles sirvam de "elemento irradiador de uma mensagem esclarecedora".