Brasília, 17/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Depois de receber uma enxurrada de críticas de integrantes do governo, do PT e da oposição, por causa da viagem que fez à Argentina para participar de um culto evangélico com recursos públicos, a ministra da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, conseguiu uma voz em sua defesa. O 1o vice-presidente do Senado, Paulo Paim (PT/RS), afirmou que vê no debate um toque de racismo e uma clara intenção de desgastar a ministra perante a opinião pública. "Considero a Benedita uma pessoa séria, honesta, de vida política imaculada. Acho que é mais um ato político para diminuir e desmerecer seu trabalho", disse.
Ao contrário de outros membros do governo e do próprio PT, Paim considera a ministra uma injustiçada. O senador avalia que se ela seguisse a orientação da Comissão de Ética do governo e devolvesse o dinheiro gasto na viagem, estaria reconhecendo o erro que alega não ter cometido. "Se a ministra está convencida de que não fez nada de errado, devolver o dinheiro seria reconhecimento de culpa", afirmou.
Para o senador, a campanha política contra a ministra tem razões antigas: a elite do país aceita a idéia de um presidente metalúrgico e nordestino, mas não uma ministra negra e de origem humilde. "Na verdade, o crime da Benedita talvez seja o fato de ser ela uma pobre, negra e empregada doméstica que venceu e chegou no ministério. Há setores da elite que não aceitam isso", afirmou.
Na avaliação do senador, a origem de Benedita – assim como a sua própria – acabam por ajudar aqueles que estão dispostos a prejudicar sua imagem perante a opinião pública. "Tem gente que não engole que eu, operário e negro, seja senador", disse. Sob esta perspectiva, Paim afirmou que acha que outros integrantes do ministério, como o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, por exemplo, não passariam pelo mesmo processo de fritura. "A origem da Benedita a prejudica", resumiu.
O senador Paim confirmou que ouviu boatos na Fundação Palmares sobre o suposto pedido de demissão da ministra. Depois que a Comissão de Ética Pública advertiu formalmente a ministra e recomendou a devolução dos recursos usados na viagem para os cofres públicos, Benedita divulgou uma nota na qual se diz consciente de não ter feito nada de errado. Hoje, a ministra preferiu permanecer recolhida em seu gabinete sem falar com a imprensa. O silencia de Benedita deu abertura aos boatos e há quem diga que é apenas uma questão de tempo para que ela desocupe a mesa.
Paulo Paim, no entanto, avalia que apesar de toda a campanha contra a ministra ainda há espaço político para que ela permaneça frente ao ministério. E reconhece que a cobrança em cima do governo do PT será grande durante todos os anos de mandato do presidente Lula. "amanhã será outro que seja pobre e venha de baixo a ser frito", disse.
A polêmica em torno da ministra Benedita da Silva começou no final de setembro, depois de participar de um evento evangélico em Buenos Aires, na Argentina. A autorização da viagem foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), mas a razão apresentada no dia da publicação deu início às críticas. O motivo oficial publicado foi a participação de Benedita no 12o Café da Manhã Anual de Oração e não o encontro com a ministra do Desenvolvimento Social da Argentina, Alicia Kirchner. Foi o suficiente para iniciar a crise.
Benedita argumentou que foi um erro burocrático, pois um funcionário do ministério teria esquecido de protocolar o encontro com a ministra argentina. O presidente Lula se deu por satisfeito com a explicação, mas vários outros integrantes do governo – inclusive o ministro da Casa Civil, José Dirceu – aconselharam a colega de ministério a devolver o dinheiro para os cofres públicas para sepultar o assunto.