Para historiador, Papa será lembrado pelo conservadorismo e pelo diálogo com outras religiões

16/10/2003 - 19h18

Alvaro Bufarah
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O pontificado de João Paulo II ficará marcado por dois grandes pontos: a atuação centralizadora dentro da igreja católica e a busca de diálogos com outros culturas no campo externo. A opinião é do especialista em história da Igreja Católica Jose Luiz Del Roio, comentarista da Radio Populare de Milão.

"No plano interno foi um papa muito centralizador, já que, nós quase voltamos a um período da Alta Idade Média, da teocracia. Ele praticamente esmagou as instituições internas da Igreja com seu peso, sufocando as discussões levando a igreja a perder sua vivacidade" disse o estudioso, por telefone, em entrevista à Rádio Nacional.

Por outro lado, Del Roio considera bastante positivo o fato de João Paulo II ter buscado contato com igrejas de outros países. "Sobretudo neste período em que os Estados Unidos declararam guerra contra o mundo muçulmano, o Papa tem se posicionado de forma extraordinária para manter os canais de diálogo" afirmou o historiador.

Del Roio lembra que João Paulo II foi o primeiro papa da igreja católica a entrar e orar em mesquitas e que ele se empenhou pessoalmente na tentativa de evitar a guerra do Iraque, o que deverá ficar marcado na história de forma favorável ao Vaticano. Mas, na opinião do historiador, o fato de João Paulo II nunca ter ido a Rússia, a Índia e a China representa um grande revés.

"Uma de suas derrotas é jamais ter podido ir a Moscou. O relacionamento com a Igreja Oriental, a Igreja Ortodoxa, não só não caminhou como voltou para trás. Um outro aspecto é a impossibilidade da abertura de fiéis da sua Igreja em um mundo vastíssimo, que é a China e a Índia. Entre as tantas viagens que realizou, vamos dizer Moscou, Nova Déli e Pequim ficaram sempre bloqueadas, quer dizer, não foram possíveis".

Del Roio afirma que processo sucessório de um papado é uma questão muito fechada, já que, não há nenhum traço de democracia em toda a cúpula da Igreja, o que foi agravado pela concentração de poderes por João Paulo. Para ele o debate que esta sendo realizado nos jornais revela o choque político dos que pressionam pela renúncia e outros que pressionam pela permanência. "Embora seja uma decisão exclusivamente do próprio Papa", declara o especialista.

Essa discussão foi acirrada pelo fato de João Paulo ter ampliado o número de cardeais no conclave que tem direito a voto, diminuindo as chances de hegemonia entre as correntes divergentes dentro da igreja.

"Aumentou o número de cardeais para a América Latina, para a África, para a Ásia, para a Oceania, para os Estados Unidos e acabou criando um novo colégio eleitoral que não se conhece entre si. Não tem uma prática política, nem uma vivência comum", conclui o historiador.