Edla Lula e Gustavo Bernardes
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Buenos Aires - A integração regional da América do Sul e a solidez da relação bilateral com a Argentina foram a tônica dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos vários encontros que manteve em Buenos Aires. Qualificando a aliança que se renova entre Brasil e Argentina como "o momento mais importante" da história das duas nações, Lula fez questão de colocar a união como único caminho para o desenvolvimento de cada um dos países.
"Descobrimos que somos pobres, mas também descobrimos que, sozinhos, não vamos chegar a lugar nenhum. Unidos nós nos tornaremos uma potência", disse. Ao presidente argentino Néstor Kirchner, Lula chamou de irmão e, usando a linguagem dos tempos do sindicalismo, convidou o colega a lutar pelo fim da exclusão social e das desigualdades. "Tenho em você mais que um parceiro, um irmão, mais que um irmão, um companheiro", declarou.
Ao assinarem o Consenso de Buenos Aires, os dois mostraram o quanto estão determinados a adotar um "capitalismo sério", como definiu o presidente argentino, " capaz de promover profundas mudanças moral, institucional, política e econômica". Ambos os presidentes apregoaram uma globalização que não sobreponha ricos a pobres. "Uma globalização para todos e não para poucos", disse Kirchner.
O Consenso - que os ministros presentes na comitiva de Lula se recusam a enquadrar como um contraponto ao Consenso de Washington criado pelo economista John Williamson e com o qual os organismos financeiros internacionais norteavam a política econômica dos países em desenvolvimento - é um conjunto de 22 itens que pressupõe o respeito às convenções e tratados internacionais, especialmente na área de direitos humanos, trabalhistas e meio ambiente. O documento também reforça a disposição de avançar nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) a partir do Mercosul, de forma a respeitar as particularidades econômicas e culturais de cada país.
Além do Consenso de Buenos Aires, considerado o documento embrionário para alavancar a nova política de integração da região, foram firmados outros acordos nas áreas de meio ambiente, segurança, defesa da concorrência, desburocratização de documentação pública e comércio internacional.
Entre os acordos está o memorando de entendimento que prevê a criação da Comissão de Monitoramento do Comércio entre Brasil e Argentina. As atividades empresariais também serão facilitadas com o acordo que altera os termos de facilitação de atividades empresariais entre os dois países.
Segundo Lula, os acordos são uma demonstração de que a integração regional não é mais promessa nem retórica, mas uma ação concreta. Ele lembrou que para a região crescer de forma integrada, é preciso promover a união física. "Integração pressupõe portos, aeroportos e energia, sem isso não há integração".
Depois da cerimônia de assinatura dos acordos, Lula recebeu homenagens no Parlamento argentino, onde falou da urgência da criação do Parlamento do Mercosul, e apelou para a paz na Bolívia, conclamando os governantes e parlamentares da América do Sul a apoiarem soluções pacíficas para o conflito entre a população e o governo boliviano.
Nesta sexta-feira, Lula embarca para a cidade de El Calafate, localizada na Patagônia, ao Sul da Argentina, onde almoça com Kirchner.