Financiamento da UE para projetos na Amazônia destaca inclusão social

16/10/2003 - 9h08

Brasília, 16/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - "Existe hoje uma consciência muito clara de que não se pode proteger o meio ambiente da Amazônia excluindo as pessoas que lá vivem", afirmou nesta manhã o conselheiro da Comissão Européia no Brasil, Thierry Dudermel, em entrevista ao programa "Revista Amazônia", na Rádio Nacional da Amazônia. Ele explicou que a filosofia para a aplicação dos recursos que os países da União Européia destinam à preservação da Amazônia brasileira vem mudando e não se concentra mais somente no aspecto ambiental.

"É fundamental também melhorar as condições de vida das pessoas que vivem na floresta amazônica, por meio do próprio desenvolvimento social", destacou o representante da União Européia, para quem "este novo modo de pensar dará à população local condição de agir com o meio ambiente, de forma que ele não seja destruído". Dudermel acrescentou que "é importante o envolvimento da população neste processo de uso sustentável da floresta".

A União Européia, informou, financia projetos na Amazônia brasileira desenvolvidos por Organizações não-Governamentais (ONGs) e também ligados às universidades da região. Esta atitude se deve, segundo o conselheiro, "às complicações dos mecanismos burocráticos". Thierry Dudermel lembrou ainda que "as pessoas que trabalham lá, estão em contato direto, lá na ponta, são os que aparecerem na hora da chegada dos recursos".

O assessor para Cooperação Ambiental, Ernani Pilla, que acompanhou o representante da Comissão Européia na entrevista à Rádio Nacional da Amazônia, afirmou que "as formas tradicionais de ocupar a Amazônia brasileira têm levado a ciclos econômicos que não se sustentam". E citou como maus exemplos a larga escala na exploração da borracha, há mais tempo, e mais recentemente, a pecuária e o avanço das plantações de soja.

Ernani Pilla garantiu que na hora da aprovação de projetos financiados pela União Européia tudo isso é levado em conta. "Este modelo de agricultura itinerante, na Amazônia, não é o ideal, até porque existem outros tipos de atividade que podem ser mais perenes e dar resultados a longo prazo, sem degradar o próprio ambiente". O solo da Amazônia, lembrou, "é pobre e não consegue suportar este tipo de atividade".

A Comissão da União Européia no Brasil trabalha, segundo os dois delegados, com recursos a serem aplicados por meio do Programa Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais Brasileiras (PPG-7), aprovado em 1995, e que define a inclusão do "desenvolvimento social sustentável, especialmente das populações mais carentes". E entre os projetos existem os que "ensinam o pessoal a fazer queimada de forma correta". Pilla reconheceu a dificuldade de substituir os métodos atualmente utilizados, mesmo a longo prazo, e defendeu "uma queimada de maneira mais sensata que esta hoje praticada".

No caso específico das reservas extrativistas da região Amazônica, a União Européia participa em mais de 100 pequenos projetos, que já receberam perto de 5 milhões de Euros (cerca de R$ 17 milhões). Desde que foi criado, o PPG-7 já destinou às florestas tropicais do Brasil US$ 340 milhões (mais de R$ 1 bilhão). O montante de recursos aumentará com a aprovação no Banco Mundial, pela primeira vez, de um plano específico para a Amazônia. Na última reunião do Grupo de Trabalho da Amazônia (GTA), que representa mais de 500 ONGs, o Banco Mundial informou que já reservou US$ 750 milhões para serem usados na região Norte do Brasil, nos próximos quatros anos, dentro do Plano Plurianual, com destaque para as populações desfavorecidas. Neste caso, estão incluídos projetos para recuperação de favelas em solo firme nas periferias de Belém (PA) e de Manaus (AM).

Eduardo Mamcasz