Lima Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Exército brasileiro informou, por meio do seu Centro de Comunicação Social, que ainda não alterou a rotina de vigilância na fronteira com a Bolívia, nem adotou nenhuma providência adicional por causa da crise política e social que explodiu naquele país nas últimas semanas. Os protestos começaram há quase um mês, quando os bolivianos foram às ruas pedir a renúncia do presidente Sánchez de Lozada. A crescente violência que se seguiu vem preocupando o governo brasileiro, que acionou o Ministério das Relações Exteriores e a área de inteligência para acompanhar a situação.
Essa preocupação foi transmitida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente boliviano, em telefonema ontem. O Brasil tem relações estratégicas com a Bolívia, membro associado do Mercosul, com o qual o país tem mais de 700 quilômetros de fronteira e um contrato controverso de compra de gás natural. O governo brasileiro realiza atualmente delicadas negociações para revisão dos termos do contrato, considerado lesivo aos interesses nacionais. A instabilidade política boliviana, porém, interrompeu as negociações para que seja dada prioridade à solução da crise interna no país vizinho.
O contrato obriga o Brasil a comprar 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia ao longo dos próximos 20 anos. Como o país tem consumido apenas metade da cota contratual, está pagando pelo que não consome. O gás chega ao Brasil por um gasoduto que custou R$ 6 bilhões aos cofres públicos, ligando a cidade boliviana de Rio Grande a Porto Alegre (RS).
O que incomoda a população boliviana é um outro contrato, acertado pelo governo de Lozada, para exportar gás para os Estados Unidos. A Bolívia, que é dona da segunda maior reserva de gás natural da América Latina, exportaria o produto por meio de um porto no Chile. A população exige que, em vez de ser exportado, o gás seja usado para abastecer cerca de 250 mil residências sem acesso ao combustível. Desde o começo dos conflitos, mais de 50 pessoas já morreram no país.
O Exército brasileiro está presente na fronteira com a Bolívia desde a fundação dos estados do Acre, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e de Rondônia. Atualmente, cerca de 2 mil homens são mantidos no local. As tropas são subordinadas à 17a Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Porto Velho (RO), à 18a Brigada de Infantaria de Fronteira, localizada em Corumbá (MS) e à 13a Brigada de Infantaria Motorizada, que fica em Cuiabá (MT). As brigadas são desdobradas em forças de vigilância de fronteira.
Parlamentares se preocupam
O ministério de Minas e Energia e a Petrobrás, em Brasília, informaram que a decisão do governo da Bolívia de suspender a exportação de gás natural não afeta o fornecimento ao Brasil, porque atingirá apenas os contratos novos. Dos 29 milhões de metros cúbicos de gás natural consumidos diariamente no Brasil, cerca de 15 milhões de metros cúbicos são importados da Bolívia.
No Congresso Nacional, a situação de incerteza na Bolívia preocupa os parlamentares. A deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC), disse que o governo do Acre está discutindo um processo de negociação de vários produtos com os governos de alguns países da América Latina. "Com o Peru, as negociações estão andando, mas com a Bolívia vamos ter que suspender as conversações", afirmou.
Ela sugeriu que a Frente Parlamentar Brasil-Bolívia fizesse uma ação de solidariedade ao povo boliviano e se reunisse para analisar, concretamente, até que ponto o Brasil pode ser afetado por causa dessa crise.