Brasília, 14/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Uma experiência de dor que se transformou numa lição de amor, conhecimento e inclusão. Assim a professora de 1ª à 4ª série Edelísia Magalhães Araújo encontrou a saída para um grupo de crianças que estava em tratamento no setor de oncologia no Hospital Governador João Alves Filho, em Aracaju. "Seria muito ruim para criança ficar fora da escola durante o período de internação e de tratamento do câncer. Com o trabalho desenvolvido no hospital, nós evitamos que elas se desliguem dos estudos, mantendo o aprendizado de conteúdos como matemática e português", disse ela.
A professora criou o projeto "Anjo linguarudo com asa quebrada quer voar", uma alusão ao fato das crianças que estão doentes sentirem vontade de brincar e de estudar e não poderem, por causa do tratamento. No projeto, os contos de fada se transformam em lições do cotidiano das salas de aula. "Ao contar a história do Patinho Feio, estamos fazendo uma conta de subtração: a mamãe pata que ganhou 10 patinhos menos um, o que demorou mais para sair da casca do ovo", explicou Edelísia.
De acordo com a professora, oferecer às crianças oportunidade de continuar a aprender foi muito importante. "Tivemos um menino que estava na segunda série e, no último mês de aula, teve que ficar internado por 30 dias. Para evitar que ele perdesse o ano, ajudamos na aprendizagem. Ele recebeu alta e ainda conseguiu passar para a outra série", lembrou a professora.
Além das crianças que não podem ir às aulas por causa de uma doença grave, há alunos que têm dificuldade de chegar à escola por causa do trânsito pesado, mas experiências desenvolvidas pelo país demonstram a grande criatividade do professor brasileiro para superar problemas. Em Canoas (RS), a professora Tânia Traub estava preocupada com o fluxo de carros próximo à escola. "Na região do colégio, existem shoppings, supermercados, muitas ruas com o trânsito pesado", disse Tânia.
Durante um ano, ela teve três alunos machucados por causa de problemas no trânsito. "Os meninos foram atropelados por causa da desatenção e dos automóveis. A gente avisava na sala de aula, mas parece que não surtia efeito. Tivemos que envolver toda comunidade para mudar a situação", contou a professora.
Por meio do projeto Trânsito+Educação=Solução, a professora criou um clubinho entre as crianças da terceira série com o objetivo de difundir a cidadania no trânsito, com a participação de pais, alunos e todo o comércio em volta da instituição. "Conseguimos ganhar camisetas e faixas. Mobilizamos todos para o problema e só assim conseguimos diminuir o número de acidentes", lembrou Tânia. Apesar da conscientização da garotada, a escola ainda terá de se mudar, disse a professora. "Mesmo com a participação de todos, vamos ter de mudar, porque o bairro é movimentado e de acesso ao centro da cidade".
Em comemoração ao Dia do Professor, as duas professoras e mais 18 selecionadas em todo país recebem amanhã (15) do Ministério da Educação e da Fundação Bunge, o Prêmio Incentivo à Educação Fundamental.