Embaixador na Bolívia teme pela segurança dos brasileiros no país

14/10/2003 - 19h09

Lídia Porto
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Policiais e manifestante bolivianos viveram nesta terça-feira outro dia de conflitos na capital, La Paz. Pelo menos 52 pessoas já morreram desde que o governo tornou público, há algumas semanas, seu interesse de exportar gás natural aos Estados Unidos e ao México por meio de um porto no litoral chileno. A medida tornou-se impopular, já que há uma antiga controvérsia territorial entre a Bolívia e o seu vizinho do sul e, além disso, muitos são contrários à exportação enquanto os próprio bolivianos estiverem pagando caro pelo combustível.

Os manifestantes – principalmente os de origens indígena – também acusam o presidente, Gonzalo Sanchéz de Lozada, de se preocupar mais em ter os Estados Unidos como aliados na guerra contra as drogas do que propriamente em elevar a qualidade de vida da Bolívia, o país mais pobre da América do Sul, onde 60% da população vive com menos de R$ 12 por dia.
Embora Sanchéz de Lozada tenha dito publicamente que abandonará seu projeto de exportação de gás aos EUA, os manifestantes mantêm a greve geral e o cerco a La Paz.

Numa entrevista exclusiva ao programa Revista Brasil, do Sistema Radiobrás, o embaixador brasileiro na Bolívia, Antonino Mena Gonçalves, contou que a capital está caótica. "Esperamos que as forças que se opõe aqui possam resolver suas desavenças de forma pacífica, através do diálogo, respeitando as leis e os direitos humanos e que qualquer solução seja democrática e obedeça às posições da Bolívia em relação à cláusula democrática do Mercosul", ponderou o embaixador brasileiro.

Contudo, Mena Gonçalves não descartou a possibilidade de o Brasil ter de retirar seus cidadãos do país caso a situação fique ainda mais instável. "Se a situação se agravar a um ponto insuportável, nós vamos tomar as medidas necessárias para tirá-los daqui por nossos meios", garantiu, assinalando que o aeroporto internacional está fechado e as estradas, bloqueadas.

Segundo o embaixador, a comunidade brasileira residente em La Paz é relativamente pequena, mas há sempre o fluxo de turistas. Contudo, não há até agora registros de que brasileiros tenham sido diretamente afetados pelos distúrbios. Mena Gonçalves vê como um duro impasse o pedido de renúncia feito pelos manifestantes ao presidente Sánchez de Lozada. Segundo conta o diplomata brasileiro, nem o presidente renunciará, nem os manifestantes vêem outra saída senão a retirada de Lozada. Para prevenir ataques, o exército protege, neste momento, o palácio presidencial com dezenas de tanques.