São Paulo, 10/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Caderno, lápis e caneta são os bens mais preciosos que Luiz de Caldas Goiana, 33, possui atualmente. Ele sabe que o material que usa no curso de alfabetização vai ajudá-lo a melhorar de vida.
Em São Paulo há pouco mais de um ano e quatro meses, sem parentes próximos, e com tempo livre, já que está desempregado, o trabalho do cearense Luiz é aprender a ler e escrever. Sem dinheiro, ele não reclama por ter de caminhar, na ida e na volta, cerca de 40 minutos, do
albergue no Bairro do Brás, que chama de casa, até a ONG Ação Educativa, na Vila Buarque, parceira do programa Mova-São Paulo (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos).
Luiz ainda não ganhou dinheiro na capital paulista, já que está difícil arranjar emprego, mas vem ganhando conhecimento e instrução. Sua professora, Mayra Ferrari Paroni, vê em Luiz determinação e força de vontade. O processo de alfabetização aplicado em sala de aula respeita o tempo de aprendizado de cada pessoa e conta com atividades em grupo a partir de temas propostos pela professora ou pelos alunos.
O último tema apresentado aos estudantes contou a história de Virgulino Ferreira da Silva,o Lampião, conhecido também como o "Rei do Cangaço". Herói para uns e bandido para outros, muito já foi falado e escrito sobre esse mito sertanejo.
Luiz comenta que, em sua infância, ouviu falar que Lampião "era muito valente". Mais uma vez a história de Lampião foi reescrita. Desta vez, Luiz e sua turma da alfabetização passaram para a
professora, por meio de uma discussão em grupo, o que entenderam a partir da peça de teatro e do vídeo que mostraram a vida de Lampião.
"Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, foi o Rei do Cangaço porque mataram seu pai. Ele ficou revoltado e jurou vingança. Formou seu próprio bando, atacou os fazendeiros e lutou pela sobrevivência do povo pobre nordestino que sofria com a seca, a fome e o descaso do governo.
Certa vez, andando pelo agreste brasileiro, Lampião conheceu Maria Bonita, que largou seu marido para viver com ele até o fim de suas vidas. Em 1938, Maria Bonita, Lampião e alguns integrantes de seu bando, foram mortos em uma emboscada feita pela polícia, no estado de Sergipe."
Virgulino nasceu no interior de Pernambuco, sabia ler e escrever e gostava de fazer versos. Ele e seu bando andavam a pé pelo sertão nordestino, do qual Lampião se dizia governador.