Brasília, 9/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - O Laboratório de Biotecnologia (LBT) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) apresentou dois estudos envolvendo o emprego de plantas de tabaco modificadas geneticamente com o intuito de gerar vacinas contra a leishmaniose e contra a hepatite B. No primeiro caso, ainda não existe vacina para prevenir a doença. No segundo, a tentativa é baratear o custo de obtenção. Os dois estudos, ainda em andamento, são teses de mestrado.
A leishmaniose é uma doença endêmica em muitas áreas tropicais e subtropicais do mundo, inclusive no Brasil, onde constitui significativo problema de saúde pública. Ela é causada por protozoários do gênero Leishmania. Em sua tese, a bióloga Alyne de Oliveira Silva descreve o estágio alcançado pela pesquisa e a tentativa de obtenção da vacina apoiada no
gene Lack, responsável pela codificação de uma proteína que funciona como alvo preferencial da defesa imunológica humana. Ocorre que, quando acionada a defesa orgânica, o resultado não é a eliminação do protozoário, mas sim o desenvolvimento da doença.
A tática dos pesquisadores para lidar com esta situação é tentar induzir não propriamente uma imunização, mas sim a tolerância do sistema imunológico à proteína sintetizada pelo gene Lack. Se a tolerância for conseguida, acreditam os pesquisadores, o sistema imunológico poderá acionar suas outras ferramentas para destruir o parasita. Segundo o orientador do trabalho, vários trabalhos já demonstram que se pode usar a proteína do gene Lack para induzir a tolerância, mas não há definição quanto à obtenção de uma vacina contra a leishmaniose.
No caso da Uenf, o objetivo dos estudos é fazer com que plantas de tabaco inoculadas com o gene Lack venham a sintetizar a proteína em questão. Se der certo, será possível tentar o mesmo procedimento com plantas usadas na alimentação humana, abrindo caminho para uma vacina comestível.
Como até o momento a proteína não foi detectada nas plantas estudadas, os pesquisadores recorrem a duas providências complementares. Uma é estimular o aumento da expressão do gene por meio de "promotores" mais fortes. Promotores são regiões do gene responsáveis pela maior ou menor produção da proteína a ser sintetizada. Com isso, espera-se que a proteína seja
efetivamente produzida e em quantidade mais expressiva. Por outro lado, o estudo recorre a instrumentos mais precisos para captar a presença ou não da substância.
A hepatite B é causada por um vírus, e a vacina (conhecida como HbsAg) já existe há cerca de 16 anos. Para se obtê-la, recorre-se a bactérias e células de levedura (fungo) modificadas geneticamente. O objetivo da pesquisa da Uenf nesta área é obter por meio de plantas a mesma proteína hoje sintetizada por bactérias ou leveduras, o que tornaria o processo de produção pelo menos dez vezes mais barato.
As plantas de tabaco que receberam o gene responsável pela síntese da proteína HbsAg ainda não foram analisadas quanto à presença ou não da citada proteína. O estágio das pesquisas foi descrito em tese de mestrado da bióloga Juliana Martins Ribeiro, em setembro último. Ascom Uenf).