Brasília, 8/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Mais de 51 milhões, ou quase um terço dos brasileiros têm menos de 25 anos, segundo o Relatório Estado da População Mundial divulgado hoje pelo Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa). "As principais dificuldades desses jovens estão na área de emprego, educação e acesso à informação", enumera Rosemary Barber-Madden, representante do Unfpa no Brasil. Para ela, a falta de conhecimentos básicos pode ser uma questão de vida ou morte.
Um exemplo disso é a taxa de mortalidade materna. Atualmente, 277 brasileiras em cada grupo de mil grávidas morrem em decorrência de complicações na gestação – o que constitui a maior causa de óbitos de meninas entre os 15 e os 19 anos. Boa parte delas poderia evitar os problemas se soubesse como agir. "Apesar de 99% dos partos feitos no País já acontecerem em hospitais, muitas gestantes não têm idéia da importância dos exames pré-natais e morrem por causas que vão desde pressão alta e eclampsia até abortos clandestinos mal feitos", exemplifica Barber-Madden.
A especialista das Nações Unidas aponta que a primeira gestação antes de completados 20 anos acontece, na maioria das vezes, pelo não uso de contraceptivos e, em quase 60% dos casos, tanto na América Latina quanto na África, atinge meninas analfabetas. "Os adolescentes iniciam a vida sexual cada vez mais cedo. Um quarto deles têm vida sexual ativa antes dos 15 anos, o que os expõe mais cedo a riscos como o da gravidez indesejada e de contração de doenças sexualmente transmissíveis", diz.
Pelo relatório, a Aids, apesar de tantas campanhas educativas, continua a ser bastante disseminada no Brasil. Desde o início da década de 80 até o ano passado, cerca de 258 mil pessoas foram registradas como soropositivas, sendo que 5,5 mil eram adolescentes entre 13 e 19 anos. Seguindo uma tendência mundial, as mulheres brasileiras são as mais infectadas, e já representam 63% dos casos da doença entre jovens.
Ao concluir que o mundo tem a maior geração de adolescentes da história (cerca de 1,2 bilhão), e que um quarto deles vive na miséria, a grande preocupação do Unfpa é com políticas públicas que melhorem as condições de vida e de trabalho desses futuros adultos. "Os governos dos países em desenvolvimento, como o Brasil, devem elaborar programas sérios na área de qualificação profissional, esportes e cultura", sustenta.
Barber-Madden reconhece que o governo brasileiro se esforça para abrir espaços destinados aos jovens na economia. "Programas como o Bolsa-Escola e o Primeiro Emprego podem aumentar o número de anos que os adolescentes permanecem na escola, recebendo instruções e uma maior profissionalização", avalia. Ela disse que, após estudar as leis brasileiras em conjunto com parlamentares no Congresso Nacional, percebeu a distância entre a teoria e a prática das normas. "Como falar, por exemplo, que um adolescente até os 16 anos não pode trabalhar sendo que, no campo, eles, com sua força, têm de garantir o sustento da casa?", questiona.
Números do relatório em comparação com outros países:
* A população estimada do Brasil em 2050 será de 233,1 milhões. A da Índia será de 1,5 bilhão.
* 82% dos brasileiros vivem na zona urbana.
* Pela média, a brasileira tem 2,2 filhos. Em alguns países árabes, como o Iêmen, a taxa passa de sete filhos por mulher.
* 87% dos brasileiros têm acesso a água potável. A maior parte dos países desenvolvidos têm 100%. Na África, a percentagem é bem menor. Na Etiópia, apenas 23% da população têm água limpa.