Brasília, 2/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Um país que continua apresentando desigualdade de renda entre os municípios, mas registra melhora na educação de seu povo. É assim que o Brasil aparece no Atlas do Desenvolvimento Humano, divulgado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fundação João Pinheiro (FJP).
De acordo com os dados da publicação, a desigualdade de renda aumentou na década de 90 em dois terços dos municípios brasileiros, ou seja, 3.654 municípios. Em 370 municípios a desigualdade estacionou, e nos outros 1.483 municípios, houve queda na desigualdade da distribuição de renda.
O índice que mede a desigualdade de renda subiu de 0,53 para 0,56 entre 1991 e 2000. O destaque fica por conta da cidade de Jutaí (AM), que apresentou crescimento no índice de 0,55 para 0,82. No outro extremo estão as cidades de Barra do Choça, na Bahia, e a gaúcha Santa Maria do Herval, ambas apresentaram uma distribuição de renda mais equilibrada. O índice nas cidades caiu de 0,51 para 0,36 entre 1991 e 2000.
O estudo mostra um país com forte concentração de renda. No período entre 1991 e 2000, o índice aumentou em 23 estados, ficando de fora Rondônia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Roraima, onde o índice caiu de 0,65 para 0,62. O estado brasileiro mais desigual é Alagoas, que pulou da posição 0,63 para a 0,69. O estado que apresentou melhor posição nesse quesito foi Santa Catarina, apesar da ligeira elevação do índice.
Menores que estão se tornando grandes
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Os anos 90 foram marcados por avanços no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) dos menores municípios do Brasil. As 159 cidades que tiveram os maiores ganhos proporcionais de desenvolvimento humano no país entre 1991 e 2000 têm menos de 50 mil habitantes. O Atlas mostra que ao longo da última década, o progresso em desenvolvimento humano foi mais lento nos municípios de grande porte. Os dados mostram que municípios com mais de 100 mil habitantes tiveram um IDH menor do que municípios com população entre 20 e 25 mil habitantes. Na média, os menores municípios tiveram uma evolução de 15,9% no seu IDH-M.
Em 83% dos municípios brasileiros, a educação foi o item que mais se desenvolveu nos últimos dez anos. De acordo com os dados, na média das 5.507 cidades, o subíndice de educação cresceu 25% entre 1991 e 2000, contra um crescimento de 12% do subíndice de longevidade e de 11% do subíndice de renda.
Para o diretor do Ipea, Ricardo Paes de Barros, o progresso em desenvolvimento humano pode ser atribuído principalmente à melhoria nos indicadores educacionais. Para ele, a contribuição da educação foi particularmente mais importante para o progresso dos municípios de menor IDH. Barros explicou ainda que a redução da desigualdade educacional contribuiu para a queda da desigualdade em desenvolvimento humano entre as cidades brasileiras.
De acordo com a pesquisa, embora a alfabetização da população tenha crescido, o que mais puxou a evolução educacional foi a taxa bruta de freqüência à escola. O dado significa que melhorou o acesso à escola, independente da qualidade do ensino.
Nordeste apresentou boa performance na educação
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O Nordeste surpreendeu positivamente no resultado da pesquisa. De acordo com o Atlas, das 494 cidades brasileiras com população entre 50 mil e 500 mil habitantes, as 25 que mais avançaram em desenvolvimento humano na década de 90 são do Nordeste; em todas o crescimento em educação foi maior do que em renda e em longevidade.
O Piauí foi o estado que apresentou maior renda, com um aumento de 12,7%. O Rio Grande do Norte foi o campeão em longevidade, com 18,4%. Os maiores ganhos de esperança de vida foram registrados por Salvador, Fortaleza e Recife. E Alagoas apresentou o melhor índice no quesito educação, com o índice de 31,4%.
A cidade baiana de Euclides da Cunha foi a que mais evoluiu em termos de desenvolvimento humano entre 1991 e 2000. O índice pulou de 0,45 para 0,56, um crescimento de 31,6% em nove anos impulsionado principalmente pela educação.
São Paulo é o estado cujos municípios registraram menos progresso na década de 90. De acordo com os dados, dos 25 que menos cresceram, apenas dois não ficam em São Paulo: Ponta Porã (MS) e Blumenau (SC). Grande parte dessas cidades que ficaram com o IDH-M praticamente estático está situada na região metropolitana de São Paulo, como Embu e Francisco Morato.
O Atlas mostra que a Grande Florianópolis apresenta um IDH-M de 0,86, o melhor índice entre as 33 regiões metropolitanas do país. Das dez Regiões Metropolitanas mais bem classificadas no ranking do IDH-M, seis ficam em Santa Catarina. O Estado concentra ainda as três primeiras colocadas: depois da Grande Florianópolis, vêm os núcleos metropolitanos da Região Norte/Nordeste Catarinense (Joinville) em segundo lugar, e da Região do Vale do Itajaí (Blumenau) em terceiro, ambos com IDH-M de 0,85.
Com esses dados, Santa Catarina aparece em segundo lugar entre todas as unidades da Federação, ficando atrás apenas do Distrito Federal na classificação pelo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).
As maiores do Brasil
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Das 13 cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes em 2000, Fortaleza (CE) teve o maior avanço no IDH-M ao longo da década de 90: crescimento de 9,6%. O aumento no seu desenvolvimento humano pode ser atribuído ao crescimento de 12,8% no subíndice relativo à educação. No outro extremo, a grande cidade que menos evoluiu foi Manaus (AM), com aumento do índice de apenas 3,9%. Na média, o IDH-M das maiores cidades brasileiras cresceu 6,1%. O maior desenvolvimento humano continua sendo o de Porto Alegre (RS), com índice de 0,86. São Paulo, que era a segunda mais bem colocada no grupo das maiores cidades brasileiras em 1991, teve uma evolução de apenas 4,5% no seu IDH-M e caiu para o quinto lugar, ficando atrás de Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro. E o Rio de Janeiro passou da 5a. para a 4a. colocação no ranking do IDH-M das maiores cidades brasileiras porque teve avanços maiores do que os de São Paulo em renda per capita e longevidade.