Recife, 25/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - Cerca de 700 cientistas do Brasil e de 14 países, entre os quais o Reino Unido, Estados Unidos, França, Canadá e Argentina, divulgaram hoje no III Congresso Brasileiro de Biossegurança e II Simpósio Latino Americano de Transgênicos, a Carta do Recife.
O documento, a ser encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Congresso Nacional, destaca que o atraso tecnológico no campo da agrobiotecnologia poderá representar não só a perda de competitividade do agronegócio brasileiro, bem como a não disponibilidade no país de alternativas agrícolas ambientalmente menos agressivas.
Enfatiza que as decisões em relação a segurança de produtos geneticamente modificados em laboratórios, os transgênicos, devem considerar o parecer da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio, composta pelos maiores especialistas do país.
O presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja, Ywao Miyamoto, um dos palestrantes do encontro, afirmou que dos 20 milhões de hectares de soja plantados na última safra, 10 milhões de toneladas foram transgênicas, sendo metade do produto destinado a exportação para consumo animal e humano.
Ele explicou que devido à falta de informação e impasses jurídicos, o país está fechando a porta para a entrada da ciência e com isso, perde vantagens no mercado.
Sobre a medida provisória que deve ser assinada para permitir o plantio e comercialização da soja transgênica do Rio Grande do Sul, disse que a médio e longo prazo a iniciativa não resolve o problema, porque não assegura o fornecimento de sementes selecionadas pela Embrapa, nem incentiva a pesquisa.
Ele criticou as exigências da legislação atual para as lavouras transgênicas acima de cinco hectares, que obriga os produtores a fazer estudo de impacto ambiental inclusive para pássaros que sobrevoarem a área, água, subsolo, peixes, microorganismos de bacias e população que mora em um raio de 50 km.
De acordo com Miyamoto, daqui há cinco ou 10 dez anos, quando chegar na segunda geração de transgênicos, o país precisará comprar sementes de outras nações para produzir variedades de soja, milho e hortaliças em função da falta de investimentos em ciência e tecnologia. Ele explicou que a terceira geração de transgênicos na agricultura vai possibilitar embutir remédios nos alimentos como arroz, milho e feijão, evitando assim que as pessoas adoeçam. Enfatizou que países como China, Japão e Tailândia são os que mais destinam investimentos no desenvolvimento da biotecnologia.
O congresso será encerrado neste sábado (27), com palestra sobre a segurança dos organismos geneticamente modificados e derivados, utilizados em produtos alimentares.