Álvaro Bufarah
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Apesar de a agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não prever encontro com grupos de defesa dos direitos humanos na visita a Cuba, há uma grande expectativa por parte dos ativistas de que Lula convença, de alguma forma, Fidel Castro a promover um processo de abertura política e social. "Talvez essa visita sirva para conseguir a libertação de um grupo importante de presos políticos, iniciando pelos doentes, e mostre ao governo cubano que o modelo totalitário é insustentável", disse o cubano Elisardo Sanches, fundador de uma comissão de direitos humanos clandestina.
Em entrevista à Agência Brasil por telefone, direto de Havana, Sanches explicou que os militantes de direitos humanos esperam que Lula aborde com Fidel Castro a questão das liberdades políticas pelo fato de o presidente brasileiro ter sido um ex-sindicalista e operário eleito
democraticamente. Lula chega amanhã ao meio-dia em Cuba, onde permanece
até sábado.
A falta de liberdade de expressão é apontada por Sanchez como um dos maiores problemas do país. "Cuba tem o índice mais alto de presos políticos por grupo de 100 mil habitantes em toda América Latina e possui, atualmente, mais de 300 presos políticos, dos quais 100 são
prisioneiros de consciência", salientou.
O ativista espera que o governo cubano se incorpore a corrente democrática e de modernização que possibilitou a abertura política e econômica na América Latina, embora os resultados ainda não sejam ideais. "Sabemos através de contatos com outros grupos sociais que há problemas de direitos humanos no Brasil, principalmente relacionados à área social. Mas o Brasil é uma sociedade aberta, onde se tem partidos políticos, organizações não-governamentais e uma imprensa livre, o que não é o caso de Cuba", justificou.
Para Sanchez, a situação de caos e miséria enfrentados pela população cubana é resultado do regime totalitário semelhante ao que existente na Europa oriental antes da queda do muro de Berlim e não do embargo econômico imposto pelo governo norte-americano. "Utilizando um discurso de que o Estado é de todos, o governo levou a sociedade a uma situação de pobreza
tão grande em Cuba que atualmente o salário médio oficial é de apenas de dez dólares ao mês", lamentou.
Segundo ele, embora desde o início dos anos 60 o governo venda alimentos a preços subsidiados, a quantidade de produtos só é suficiente para os primeiros 10 dias do mês. "Nos outros dias, as pessoas têm de fazer mil manobras para conseguir se alimentar e sobreviver", argumentou.