Presidente pede aos bancos que deixem o ''caixa aberto'' para a população

17/09/2003 - 13h50

Brasília, 17/09/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu hoje um recado aos bancos. Lula afirmou que irá aumentar as possibilidades de a população de baixa e média renda conseguir acesso ao crédito. "Por favor, mantenham o caixa aberto que nós vamos precisar de muito dinheiro nesse país", disse. Segundo Lula, é preciso encontrar formas de colocar dinheiro em circulação no Brasil, ainda que o valor não seja o suficiente para que o país retome o crescimento econômico, da forma como o governo gostaria.

"Se a gente não consegue pegar sempre o peixe grande que a gente quer pegar, eu acho que é possível fazer uma grande somatória de peixes menores, fazer uma caldeirada e comer uma boa peixada. Se você não tem o dinheiro para o investimento que um país como o Brasil precisa para que o país volte a crescer com a rapidez que todos nós queremos, é preciso a gente se mexer para encontrar formas de colocar dinheiro em circulação", afirmou o presidente.

Uma das formas aumentar o montante de dinheiro em circulação foi anunciada essa manhã, durante uma solenidade no Palácio do Planalto. O presidente Lula assinou uma medida provisória que permite que trabalhadores da iniciativa privada tomem empréstimos com o desconto feito no contra-cheque. O valor máximo do empréstimo será de até cinco vezes a renda líquida do trabalhador. O pagamento, que será feito por meio de desconto de parcelas fixas na folha de pagamento, poderá ser dividido em até 24 vezes, e as parcelas não podem ser superiores a 30% do salário líquido do funcionário.

O presidente ressaltou a importância da medida para reduzir os juros dos empréstimos bancários, o que irá possibilitar o acesso do trabalhador a crédito e será mais uma forma de combate à agiotagem. "Vocês estão oferecendo ao sistema financeiro o que o trabalhador tem de mais sagrado que é o seu salário no final do mês. O banco vai ter a certeza que, ao estar financiando um trabalhador que tem carteira assinada, que recebe o salário no final do mês, irá receber. O desconto pode ser pactuado entre sindicato e empresa, o risco para o banco é zero", disse.

Devido ao risco menor, a expectativa é que a taxa de juros cobrada pelos bancos para esse tipo de empréstimo seja inferior à do mercado. A definição do valor, que deverá ficar entre 2% 3% ao mês, será negociada entre sindicatos e bancos. "O movimento sindical precisa jogar duro para que haja acordo em que os juros sejam compatíveis com a necessidade que o trabalhador tem, principalmente aquele que ganha renda média", ressaltou Lula.

No futuro, os aposentados também serão beneficiados com o empréstimo. O presidente Lula reconheceu que é preciso verificar como o desconto pode ser feito na folha de pagamento do INSS, mas garantiu que pretende incluir, nesse sistema de empréstimo, os 19 milhões de aposentados brasileiros.

O dinheiro do fundo de garantia e do Fundo de Amparo ao Trabalhador, segundo Lula, raramente ajuda o trabalhador enquanto ele ainda está na ativa. O presidente disse estar disposto a discutir com os trabalhadores formas de fazer com que esse dinheiro fique disponível em forma de crédito. "O governo está disposto a discutir esses e outros assuntos para ver se a gente consegue fazer uma espécie de rapa no caixa para que todo o dinheiro que você tenha possa estar disponibilizado para que as pessoas possam ter um crédito", afirmou o presidente.

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que também participou da solenidade, disse que "já passou da hora" das pessoas pararem de reclamar dos juros altos e que o momento é de negociar as maneiras de se construir o desenvolvimento que o Brasil precisa. O ministro afirmou que a medida provisória assinada pelo presidente abre espaço para essas negociações. "A medida não é um decreto do governo regulamentando juros, mas sim uma autorização legal para que empresas, sindicatos e bancos possam negociar taxas mais baixas", afirmou Palocci.