Astronauta brasileiro diz que domínio do espaço é fundamental

16/09/2003 - 15h27

Brasília, 16/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O acidente com o Veículo Lançador de Satélites (VLS-1) ocorrido no mês passado no Centro de Lançamento de Alcântara (Cla), no Maranhão, deve servir de estímulo para o aperfeiçoamento do Programa Espacial Brasileiro (Peb), que não pode ser abandonado em hipótese alguma. A recomendação é do tenente-coronel da Aeronáutica e primeiro astronauta brasileiro, Marcos César Pontes, feita hoje na Universidade de Brasília (UnB), em palestra sobre "Os rumos do Programa Espacial Brasileiro".

Segundo ele, ter um programa espacial é uma questão estratégica, já que poucos países do mundo dominam essa tecnologia de ponta. "O Brasil não pode abrir mão de um programa iniciado em 1961 e que pode trazer diversos benefícios para a sociedade". Pontes ressaltou que todos os países que desenvolvem tecnologia espacial, sem exceção, já sofreram acidentes em seus projetos e souberam tirar resultados positiva do infortúnio.

Como exemplo, citou a explosão do ônibus espacial Colúmbia, dos Estados Unidos, e cujo relatório, divulgado recentemente, indicou recomendações técnicas e operacionais que darão maior segurança ao projeto. "Lamentamos as vítimas, mas temos que descobrir como o acidente com o VLS pode contribuir positivamente para o aperfeiçoamento do projeto nacional", afirmou Pontes, acrescentando que o Brasil tem potencial para ingressar no seleto grupo de países que lideram as pesquisas espaciais.

De acordo com o astronauta, graças à importância e ao reconhecimento internacional de nosso programa espacial, o Brasil participa, ao lado de outros 15 países, do concorrido projeto da Estação Espacial Internacional (ISS, da sigla em inglês) que prevê o envio de tripulantes e a utilização de parte dos equipamentos da estação para o desenvolvimento de pesquisas realizadas por instituições nacionais.

Pontes ressaltou que os US$ 120 milhões que serão investidos para que o Brasil participe da ISS serão integralmente aplicados dentro do país na produção de peças e equipamentos de ponta que serão posteriormente empregadas na própria estação, gerando empregos e estimulando o desenvolvimento tecnológico nacional.

Ele defendeu o uso comercial da base de Alcântara, destacou a importância do investimento em ciência e tecnologia e pediu maior apoio da sociedade ao Peb. "Apoio não é apenas vontade política. Precisamos da vontade do país como um todo". Para o militar, as críticas de alguns setores da sociedade de que o dinheiro gasto com o programa espacial seria melhor aplicado em programas sociais são complemente infundadas. "Investir em C&T é investir na busca de soluções para os problemas sociais", lembrou.

Na palestra, Pontes também relatou as diversas fases do treinamento realizado pelos astronautas nos Estados Unidos e se disse otimista em relação à participação de outros brasileiros em projetos espaciais internacionais. "Sou o primeiro, mas certamente não serei o único astronauta brasileiro".