Brasília, 15/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O Ministro da Educação, Cristovam Buarque, disse em entrevista ao jornal espanhol El Pais que gostaria de trocar parte da dívida externa brasileira por incentivos à educação. De acordo com o ministro, já existem boas experiências de troca da dívida pelo investimento no meio ambiente. "O que é mais importante: conservar uma árvore ou educar um menino? Por essa razão, nós fizemos uma proposta. As formas para realizá-la podem ser diversas", disse o ministro ao falar da possibilidade.
A proposta de Cristovam partiria da dedução de 10% da dívida. O dinheiro, segundo ele, seria depositado num banco internacional, que o canalizaria para os diferentes projetos de educação de cada país.
O jornal destacou a participação do ministro como um dos mediadores da 13ª Conferência Ibero-Americana de Educação como reflexo da mudança na atitude dos países latinos com respeito à educação. O evento reuniu ministros da educação de todos os países latino-americanos, além dos da Espanha e de Portugal, nos dias 4 e 5 deste mês em Tarija, na Bolívia.
Para Cristovam, deixar uma criança fora da escola, além de não investir na preparação dos professores e na qualidade do ensino é "um crime". "É mais um terrorismo. Um terrorismo com bombas invisíveis, criador de futuros terroristas e traficantes", alerta o ministro. "Além disso, os governos não se dão conta de que, ao fazer as contas, a alfabetização e a educação no geral não são um custo, e sim um investimento. É algo que pode demonstrar todo economista", enfatizou Buarque.
A falta de investimentos na educação e no social é apontada pelo ministro como um problema. Cristovam alega ter dito ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva que "o projeto do governo para a educação não tinha a sua cara. A cara da esperança que o povo havia depositado nele" e que "desejava para educação um orçamento mais generoso".
O ministro se disse realista ao afirmar que "acredita na atual política econômica do ministro Antonio Palocci (Fazenda) como suporte indispensável" e até compreende que "condicionado pela herança recebida, Lula não pôde apresentar um orçamento mais voltado para educação e o social".
Sobre o Partido dos Trabalhadores, ressaltou que "o problema de Lula é que o PT não fez as contas em seu passado, antes de chegar ao poder e agora se encontra com diversas almas que lutam entre si". Disse entender que o partido esteja punindo os deputados que votaram contra a reforma, mas também compreende que "alguns companheiros não entendem porque eles têm que votar contra tudo que sempre defenderam dentro do partido". "Ainda teremos que elaborar o que é o lulismo", completa.
Ao final da entrevista, o ministro volta a afirmar que não acredita que deixará o cargo por causa de "jogos políticos", mas que é certo que não seria ministro a qualquer custo. "Aceitei ser ministro, como havia sido governador do Brasil e reitor da Universidade de Brasília, para trabalhar pelo sonho de uma educação de qualidade para todos os brasileiros. Somente isso interessa a mim. E Lula, que sofreu em sua carne por não poder estudar tudo o que tinha desejado, e ter uma mãe analfabeta, sabe e compreende muito bem", completa.