Brasília, 12/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - A educação mundial vem se desenvolvendo a cada ano, mas o Brasil não está acompanhando essa evolução. O desempenho de alunos com 15 anos foi avaliado em 32 países e o Brasil ficou com uma das piores posições, superando apenas a Macedônia, Indonésia, Peru e Albânia. Do total das crianças brasileiras que cursam a quinta série do ensino fundamental, 64% não sabem ler, nem escrever. Os dados foram divulgados na manhã de hoje pelo presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, Gastão Vieira (PMDB-MA), e estão no relatório do grupo de trabalho que discute o tema "Alfabetização Infantil: os novos caminhos".
Segundo o documento, enquanto os outros países alcançaram média quatro, na avaliação dos alunos em relação à compreensão de texto, o Brasil ficou com média dois, sendo que 25% ainda tiveram médias inferiores a um.
Apesar de considerar muito bom o programa federal de erradicação do analfabetismo entre jovens e adultos, o deputado acha que o governo precisa dar mais atenção às crianças que não aprenderam a ler e a escrever, "porque senão elas irão se transformarão em futuros adultos analfabetos". Para Gastão Vieira, a situação da educação no país é "catastrófica".
"É uma chaga para qualquer país ter 20 milhões de analfabetos adultos. Agora, se não cuidar hoje, imediatamente, do analfabeto de amanhã, essa conta não fecha nunca. Você alfabetiza adulto, mas, aqui atrás, essas crianças vão ficar potencialmente analfabetas no final da oitava série", disse Gastão Vieira, completando que a própria Câmara dos Deputados já alfabetizou mais de 300 funcionários.
O parlamentar explicou que, de acordo com o relatório, a experiência e a visão de transformar a alfabetização em uma ciência experimental não está sendo aproveitada pelo Brasil. "A impressão que fica é que as pessoas estão fazendo o que podem e não o que devem. Educação brasileira precisa de decisão".
Quando perguntado sobre as declarações do ministro da Educação, Cristovam Buarque, sobre o fingimento do país em relação à educação, Gastão Vieira disse que apóia. "Eu acho que o ministro está falando coisas que ninguém quer ouvir. São temas que têm que ser debatidos. Acho que, depois que o governo votou a reforma da Previdência e taxou os inativos, deve ter coragem de discutir qualquer outro tema", afirmou o deputado.
Gastão Vieira disse ainda que a incitação do ministro aos estudantes para que façam passeata até o Congresso Nacional reivindicando mais recursos para educação foi uma forma "para ele não dizer que era o governo que não dava dinheiro. Ele transferiu a responsabilidade para o Congresso e, como não pode vir aqui para a porta gritar, pediu que os meninos viessem".
Os dados do relatório serão discutidos na semana que vem, durante o seminário "O poder legislativo e a alfabetização infantil: os novos caminhos", promovido pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Especialistas de cinco países participarão do seminário.