Brasília - Um artigo do New York Times hoje aponta um possível problema sobre a posição dos países em desenvolvimento nas negociações em Cancun. Intitulado "A Desilusão de Cancun", Michael Lind, da New American Foundation, escreve que os subsídios nos países ricos realmente devem ser eliminados, mas não pelas razões apresentadas pelos países pobres. Sem mencionar qualquer país, ou mesmo o G-21, Lind escreve que o principal problema dos subsídios está nas próprias nações que os praticam - onde se castiga duramente o consumidor e o contribuinte, obrigados a pagar um preço muito alto pelos incentivos dados aos produtores rurais.
Segundo Lind, a aliança dos defensores da esquerda com os fazendeiros do terceiro mundo e os entusiastas do comércio livre é apenas ocasional e sem precedentes. O artigo lembra que nos Estados Unidos, exatamente como no mundo em desenvolvimento hoje, o objetivo era criar uma classe média rural. Mas, o que seria um campo bucólico habitado por fazendeiros felizes, tornou-se o agro-negócio que usa máquinas em vez de trabalhadores, e enorme quantias de combustíveis fósseis, fertilizantes e pesticidas.
"O fim dos subsídios nos países ricos pode não resultar no fortalecimento da agricultura familiar nos países pobres, mas na modernização do seu setor agrícola e a destruição do tipo de vida que os esquerdistas querem preservar", defende o analista, também prevendo um desastre social por que as economias no terceiro mundo não têm como absorver trabalhadores rurais que, desempregados, migram para os centros urbanos.
Outro problema apontado no artigo é um conflito entre o desejo de preservar a pequena fazenda familiar e de conservar o meio ambiente. O grande agro-negócio usa menos terra, especialmente quando se cultiva alimentos modificados geneticamente. A fazenda familiar usa muito mais terra para plantar a mesma quantia que um agro-negócio e ameaça muito mais a flora e fauna.
A conclusão do artigo do New York Times, é de que se prevalecer o ponto de vista dos países em desenvolvimento (G-21), os ganhadores serão os produtores rurais dos países em desenvolvimento que podem aproveitar tarifas mais baixas e acesso a mercados. Os perdedores serão os pequenos fazendeiros e agricultores familiares do Terceiro Mundo e o meio ambiente.