Sarney afirma que golpe no Chile foi solução de violência que não deveria ter acontecido

11/09/2003 - 14h21

Brasília, 11/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente do Senado, José Sarney, disse hoje, ao abrir sessão especial em memória do presidente Salvador Allende, morto quando do golpe militar chileno, há exatos 30 anos, que tanto o assalto ao Palácio de La Moneda, em Santiago, no dia 11 de setembro de 1973, quanto os atentados às torres gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro de 2001, ficam na história "como soluções de violência que nunca poderão ser aceitas",

A sessão do Senado foi realizada momentos depois de uma outra, promovida pela Câmara dos Deputados, com o mesmo objetivo de lembrar os 30 anos do golpe militar no Chile. Em ambas as sessões estiveram presentes, além de senadores e deputados, embaixadores, cidadãos chilenos residentes no Brasil e brasileiros, dentre os mais de cinco mil que encontravam-se exilados no Chile à época do golpe.

No Senado, a sessão foi realizada por requerimento do senador João Capiberibe (PSB-AP), ele mesmo exilado no Chile, junto com a esposa, a hoje deputada federal Janete Capiberibe (PSB-AP), autora, na Câmara, do requerimento de sessão solene, juntamente com o deputado Chico Alencar (PT-RJ).

O senador lembrou ter sido o governo de Salvador Allende o último espaço democrático na América do Sul à época, que acolheu de braços abertos brasileiros ilustres, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro e candidato à Presidência, José Serra, o ex-ministro da Educação, Paulo Renato Souza, Plínio de Arruda Sampaio, Darcy Ribeiro e outros mais de cinco mil brasileiros fugidos da ditadura militar brasileira em 1964 e das conseqüências do AI-5 em 1968.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que Allende foi um herói, o presidente que recusou-se a renunciar, que chegou "ao poder como o primeiro representante da esquerda eleito democraticamente e que pelas bombas foi apeado do poder". O líder do PT, senador Aluízio Mercadante, representou o momento de maior emoção quando, com a voz embargada e sem conseguir conter as lágrimas, lembrou exilados que depois morreram já de volta ao Brasil, como Luiz Travassos. Mercadante disse que o golpe militar no Chile foi "uma das mais brutais agressões aos princípios do estado de direito, da democracia, da liberdade de expressão e das instituições democráticas no continente americano".

Autor do requerimento de homenagem a Allende e às demais vítimas do golpe militar no Chile, o deputado Chico Alencar disse que a deposição de Allende precisa estar presente na memória do povo latino-americano. "Há dois anos, têm-se o 11 de setembro como uma data de repúdio ao terrorismo internacional, mas o ataque às torres gêmeas abafou outro 11 de setembro, que precisa ser igualmente lembrado", disse. Em nome da liderança do PT, o deputado Arlindo Chinaglia (SP) lembrou a acolhida que o povo chileno deu aos brasileiros exilados após o golpe militar de 1964 no Brasil.

A deputada Janete Capiberibe agradeceu a acolhida que sua família teve em solo chileno. Ela disse que Allende "tinha o sonho de transformar o Chile numa sociedade igualitária, na qual todos tivessem franco acesso à distribuição e à produção de riquezas, alimentando os ideais socialistas".

Durante a sessão solene na Câmara, foram expostos jornais sobre o golpe militar no Chile e o último discurso de Salvador Allende, transmitido pela "Rádio Magallanes", direto do Palácio de La Moneda, na manhã de 11 de setembro de 1973, foi reproduzido na sessão. No Senado, um painel, no corredor de acesso ao Anexo I do prédio, expõe durante toda a semana fotos, informações e um vídeo sobre o golpe militar de trinta anos atrás no Chile.