Iara Falcão
Repórter da Agência Brasil
O novo embaixador da Argentina no Brasil, Juan Pablo Lohlé, afirmou nesta quinta-feira que a renegociação da dívida com o Fundo Monetário Internacional vai funcionar como um "motor de arranque", para estimular o setor privado a investir na Argentina. Para ele, o acordo dá mais estabilidade ao país e possibilita novas negociações com os credores privados, bancos e investidores internacionais.
Agora, o país deve se voltar para o controle dos gastos públicos, da inflação e a busca do equilíbrio fiscal, além de reduzir os níveis de desemprego e pobreza, hoje em torno de 18% e 52%, respectivamente. Aumentar as exportações, expandir mercados, e fortalecer o Mercosul, institucionalmente, são outras metas do novo governo.
O embaixador argentino acredita que o envolvimento do presidente Nestor Kirchner foi decisivo para fazer com que o FMI flexibilizasse as condições de pagamento da dívida de U$ 2,9 bilhões. Kirchner pediu a moratória na terça-feira e um dia depois conseguiu o que queria do Fundo: o adiamento do prazo de pagamento da dívida para três anos, além de não precisar cumprir com outras exigências do FMI. Além disso, a meta de superávit primário dos argentinos para 2004 é de 3% do PIB, ou seja, 0,5% a menos do que antes.
Por enquanto, o governo também não vai precisar compensar as perdas dos bancos com a desvalorização do peso. E a liberação dos preços das tarifas dos serviços públicos privatizados, como telefone, luz e gás, foi adiada. Para o embaixador argentino, o último ponto representa um ganho especial para a Argentina sobre a interferência internacional na definição das tarifas. "É um sinal para o sistema internacional, para mim, muito positivo, que é: que o envolvimento dos Estados estrangeiros em políticas públicas de outros estados tem um limite", disse.
Apoio brasileiro
O embaixador também falou sobre os comentários publicados pelo jornal argentino El Clarín sobre uma falta de apoio do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à posição da Argentina junto ao Fundo. Embora o presidente Lula não tenha telefonado para Kirchner, manifestando o apoio, a exemplo dos presidentes do Chile, México, Uruguai e Colômbia, o Lohlé afirmou que representantes do governo brasileiro haviam intercedido pela Argentina em conversas junto ao FMI e em contatos diretos com o chanceler argentino Rafael Bielsa.
"Houve conversações de Amorim com Bielsa, em Cancún. O chanceler brasileiro ofereceu-se para falar com Ana Krugger; também os ministros da Fazenda, o brasileiro Antônio Palocci e o argentino Roberto Lavangna estiveram dialogando. É preciso ter em conta que o Brasil também está em processo de negociação com o Fundo", atestou. Na tarde de ontem, o Itamaraty divulgou nota ratificando as informações do embaixador, assegurando o apoio brasileiro.