Brasília, 11/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O Brasil comemora hoje o Dia do Cerrado, data escolhida no mês passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em homenagem ao ambientalista Ary Pára-Raios.
O cerrado abrange uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados e estende de forma contínua pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão, Rondônia e Distrito Federal. Com a criação da data, o governo quis sinalizar a necessidade de discutir a situação de um dos ecossistemas mais ameaçados no Brasil.
O Cerrado típico é formado por árvores relativamente baixas e esparsas entre arbustos, o que na época da seca favorece a propagação de incêndios. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as queimadas têm sido a forma mais usada para a conversão dos cerrados do Brasil Central em áreas agropastoris. A estimativa é de que 20% da área estão conservados.
O bioma Cerrado também é conhecido como a savana mais rica do mundo em biodiversidade. A flora, por exemplo, conta com mais de 10.000 espécies de plantas. Além dessas características, o Cerrado tem uma importância biológica, apesar de já ter sido considerado de pouca relevância. Atualmente, apresenta-se como elemento de importância estratégica porque é nele que nasce a maioria dos grandes rios que abastecem as bacias do Paraná/Prata, do Amazonas/Tocantins e a do São Francisco.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, vê com preocupação o avanço da fronteira agrícola no Cerrado. Ele reconhece como positiva a produção de grãos, mas destaca que a atividade agropecuária não pode ser desenvolvida em detrimento da preservação do Cerrado ou de qualquer outro bioma. "A prática tem revelado que a expansão vem ocorrendo de forma desordenada, o que compromete de forma severa alguns biomas do Brasil", afirmou.
Capobianco lembra que a região tem enorme potencial para o uso sustentável dos recursos naturais. E neste sentido, o desafio é modificar a visão ainda predominante em parte da sociedade, de que o Cerrado é bom apenas para a agricultura. "Isso não é verdade, o Cerrado é importante para a biodiversidade, para o desenvolvimento de alternativas sustentáveis e para a proteção dos recursos hídricos", destacou.
A interiorização da capital brasileira provocou modificações nas características do Cerrado, com a abertura de estradas e o incentivo do uso da região para outros fins, como a pecuária e a agricultura. Os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás se transformaram em um grande pólo de produção de grãos, com destaque para a soja, e de criação de gado bovino. Os ambientalistas condenam as práticas utilizadas para a abertura da fronteira agrícola, como desmatamento, queimadas, uso de fertilizantes e agrotóxicos.
Em Goiânia, o Dia do Cerrado será comemorado na abertura da 3ª Feira e Encontro de Povos do Cerrado, com a participação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; do secretário de Biodiversidade, João Paulo Capobianco; do prefeito Pedro Wilson e de representantes de diversas entidades ambientalistas.