Novo diretor do BC disse, em 2002, que Meirelles não era o melhor nome para a presidência do banco

10/09/2003 - 17h35

Brasília, 10/09/2003 (Agência Brasil-Abr) - O economista Alexandre Schwartsman, indicado hoje para assumir a Diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central, disse em artigo publicado, no ano passado, que Henrique Meirelles estava longe de ser o melhor nome para assumir a presidência do BC. Ele defendeu, ainda no artigo, o nome de Pedro Bodin, então também cotado para o cargo, como o nome perfeito. "O deputado federal eleito Henrique Meirelles, ex-presidente da Divisão Corporativa e Global do FleetBoston, é um bom nome para o Banco Central. Mas está longe de ser o melhor que poderia ser escolhido no momento", disse Schwartsman, no artigo publicado em 16 de dezembro passado, na página da Folha de São Paulo na Internet.

Em nota à imprensa, Schwartsman disse, hoje logo após a imprensa lembrar a publicação do artigo, que estava equivocado. "O argumento naquele momento se referia à necessidade de alguém com reputação antiinflacionária já estabelecida para desempenhar de forma adequada a função de liderar a autoridade monetária. De fato, via reputação como um ingrediente essencial para o processo", afirma na nota de hoje o diretor indicado.

Em seguida, Schwartsman acrescenta que ao longo deste ano, no entanto, o êxito obtido pelo BC com a implementação da política monetária na luta contra a inflação o surpreendeu. "Uma (merecida) reputação de firmeza com a relação à inflação pode sim ser construída muito mais rápido do que imaginei", afirma.

Ainda na nota, Schwartsman diz que quanto à capacidade técnica de Meirelles, os fatos falam por si. "Soube conduzir a transição, administrando uma equipe de qualidade - que não era a sua - ao mesmo tempo em que formava uma nova, para a qual tive a honra de merecer uma indicação do ministro da Fazenda e do próprio Meirelles, sujeita ainda a apreciação do Senhor Presidente da República e à aprovação do Senado Federal. Só tenho a agradecer à confiança e à generosidade do presidente do Banco Central", diz Schwartsman.

No artigo publicado no ano passado, Schwartsman afirmou que o presidente do Banco Central, sob a atual situação brasileira, precisa exibir as seguintes características:excelente formação técnica, particularmente no que se refere à operação de um regime de metas inflacionárias; forte reputação como inimigo da inflação; trânsito fácil na comunidade financeira; e sua indicação deve indicar que a possibilidade de um Banco Central autônomo é real. "Meirelles, em minha interpretação, ainda não atende a todos esses requisitos", diz Schwartsman.

Schwartsman avalia, porém, que como ex-executivo de um banco internacional importante, Meirelles é percebido não só como pró-mercado mas, além disso, dispõe dos contatos certos com muita gente na comunidade financeira. "Trata-se de vantagens que não devemos subestimar, mas, infelizmente, elas não bastam para a solução de todos os problemas que esperam o novo presidente do BC", escreveu.

O nome do economista, de 40 anos, ainda precisa passar pela aprovação do Senado. Ele nasceu em Sâo Paulo e foi economista-chefe do Unibanco, BBA Corretora, Crédit Agricole e consultor do Grupo Pão de Açúcar. É formado em economia pela USP e em administração de empresas pela FGV. Ó diretor indicado é ainda mestre em economia pela USP e doutor pela Universidade da Califórnia, Berkeley (EUA)

Se de fato assumir o cargo, Schwartsman será o sétimo novo diretor a chegar ao BC na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dos diretores do governo Fernando Henrique só resta agora o de Normas e Organização do Sistema, Sérgio Darcy. O BC possui oito diretorias.