Brasil sonha em acabar com a fome de letras

08/09/2003 - 9h27

Brasília, 8/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - Há 14 anos, o Brasil comemorou um passo rumo ao desenvolvimento. Graças a massivas campanhas de vacinação, obtivemos a erradicação da poliomielite. Hoje, o governo Lula propõe à sociedade dois desafios à altura: eliminar do país a fome e o analfabetismo.

Nesta segunda-feira, Dia Internacional da Alfabetização, o governo se compromete publicamente: todo brasileiro terá a oportunidade de aprender a ler e escrever. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Educação, Cristovam Buarque, lançam em cerimônia no Palácio do Planalto o Programa Brasil Alfabetizado. A iniciativa consolida a implantação do programa, que auxiliará no alcance de um dos compromissos de campanha de Lula para os próximos quatro anos.

O último censo populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2000, constatou que 17,8 milhões de brasileiros com mais de 15 anos ainda não tiveram a chance de alfabetizar-se. As metas do MEC arredondam o número para 20 milhões. Em outras palavras, o governo federal propõe-se a eliminar mais que 100% do analfabetismo no Brasil neste mandato.

O projeto não tem a pretensão de concentrar-se em órgãos governamentais. Em termos de ações públicas federais, o Brasil Alfabetizado consiste basicamente na distribuição de bolsas-alfabetização para projetos conveniados em todo o país. O MEC já possui 38 projetos aprovados, seja em parceria com estados, municípios, organizações não-governamentais, empresas ou entidades civis. "Nós entendemos que a abolição do analfabetismo no Brasil não será possível apenas com o incentivo do governo, mas, sobretudo, com a participação da sociedade", ressalta o Secretário Extraordinário de Erradicação do Analfabetismo, João Luiz Homem de Carvalho.

O ministério já disponibilizou R$ 278 milhões para ensinar jovens e adultos e, até o fim de 2003, o objetivo é alfabetizar três milhões de alunos. "Já chegamos a um milhão e temos mais 800 mil pessoas aprendendo a ler e a escrever. Até o final do ano, vamos incluir mais 1,2 milhão", comemora o secretário.

Os recursos são repassados às instituições conveniadas mediante a aprovação de projetos. Cada professor receberá R$ 15 por alunos ao mês, e as entidades deverão receber R$ 80 para capacitar os alfabetizadores. Atualmente, mais de 56 mil educadores já estão trabalhando em sala de aula.

"Estudar virou moda!"
A oportunidade não será apenas de aprender, mas também de ensinar. Para a secretária Clauzene Lima, o trabalho de alfabetizar se tornou uma paixão. Há mais de 17 anos, ela ensina jovens e adultos em seus horários de folga. "Hoje tenho 25 alunos com faixa etária de 30 anos. Muitos nunca foram à escola, e outros só cursaram um ou dois anos do ensino fundamental. Antigamente, estudar era coisa para homem e para quem vivia na cidade, agora virou moda!", constata a professora.

Clauzene é um dos 16 voluntários no Centro de Educação Paulo Freire, organização não-governamental que atende a cidade satélite de Ceilândia (DF) e utiliza como base do sistema educativo os ensinamentos do pedagogo Paulo Freire. "A partir das palavras geradoras (do cotidiano do aluno) vamos alfabetizando. Depois, ainda temos aulas de pós-alfabetização e numerização", explica ela. A duração média dos cursos da ONG é de seis meses. "Usamos salas de igrejas, associações e escolas. Dependendo da procura do aluno temos turmas no período da tarde, mas a maioria estuda à noite por causa do trabalho", afirma.

O analfabeto vive num labirinto
Dentre as atividades propostas para sensibilizar a população para o projeto, o MEC construiu um Labirinto da Alfabetização, montado na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Na capital federal, o estande poderá ser visitado deste domingo até o dia 14, das 10h às 18h, com entrada franca.

O Labirinto já esteve na XI Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro e no 54ª encontro da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (SBPC), em Recife. Mostra aos visitantes o drama do analfabetismo no Brasil e sugere a participação de todos nos programas de alfabetização do Ministério da Educação.

A intenção é mostrar a realidade de quem não sabe ler nem escrever. Expectativa, curiosidade, reflexão, vergonha, indignação são alguns dos sentimentos experimentados pelos visitantes. Outra ação do ministério será a cobertura das torres do Congresso Nacional, em Brasília, com uma bandeira do Brasil de 2.400 metros quadrados, chamando a atenção de quem passar pela Esplanada dos Ministérios para o problema.