Rio, 7/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - "O discurso adotado pelo governo Lula de que crescimento econômico leva à redução da pobreza é correto. Mas essa redução poderia ser muito maior por meio da redução da desigualdade". A sugestão é dos pesquisadores do Instituto de Estudos de Trabalho e da Sociedade (Iets), Maurício Blanco e Érica Amorim, da Fundação Centro de Informações e Dados do Estado do Rio de Janeiro.
Segundo explicaram os pesquisadores, se fossem tirados 10% da renda de todas as pessoas e distribuído esse valor pelos 170 milhões de brasileiros, cerca de 12 milhões de pessoas seriam tiradas da pobreza. "Para acabar completamente com a pobreza no País, seria necessário tirar 7% da renda total dos habitantes não pobres e distribuir pela população pobre, por meio de políticas de distribuição de renda", disse Maurício Blanco.
A primeira tarefa a ser feita, acrescentou, é "organizar a fila" nos serviços públicos para atendimento prioritário aos mais pobres, tanto na área da educação quanto na da saúde. Érica Amorim informou que os recursos destinados às políticas públicas ou políticas sociais aumentaram em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) na década de 1992 e 2001, mas o problema de focalização persiste.
Estudo do Banco Mundial revela que de cada Real supostamente destinado para o pobre no Brasil, somente R$ 0,16 alcançam seu destinatário e o resto é diluído pelos não pobres. Ou seja, é preciso gastar melhor e fazer com que o Real chegue de fato ao pobre, disse Maurício Blanco. Se essa fatia de Real que chega ao extrato mais pobre do povo se elevar para R$ 0,30 ou R$ 0,40, já haverá ganho significativo nas chamadas políticas sociais.
Embora a renda domiciliar per capita tenha subido no período pesquisado de R$270,00 para cerca de R$450,00 em nível Brasil, a apropriação da renda total do País pelos 10% mais pobres da população caiu de 1,1% em 1992 para 0,9% em 2001, enquanto a participação dos 10% mais ricos subiu em 10 anos de 44,5% na renda total para 46,4%. Quando se compara a participação dos 20% mais pobres (hoje de 1,9%, contra 2,2% em 1992) na renda total, verifica-se que o Brasil está distante de países mais pobres das Américas, como Bolívia e Guatemala,onde a parcela mais carente da população se apropria de maior percentual da renda total, da ordem de 3,7% e 4,9% respectivamente, expôs Blanco.
Outro dado expressivo mostra como a desigualdade aumentou no Brasil: os 10% mais ricos da população brasileira ganhavam 22 vezes mais do que os 40% mais pobres em 1992 e, em 2001, essa proporção subiu para 24 vezes, enquanto na Suécia essa relação é de 9 vezes. No estado do Rio, os 40% mais pobres se apropriam de 10% da renda total, contra 12% da faixa de 1% dos mais ricos. O grau de desigualdade existente no Estado pode ser medido ainda pela apropriação de 47% da renda pelos 10% mais ricos da população, enquanto os 90% mais pobres ficam com 53%, mostraram os pesquisadores do IETS.