C&T - Qual é a diferença entre inseminação artificial e fertilização in vitro?
Abdelmassih - Inseminação artificial consiste em colocar o espermatozóide dentro do útero simplesmente. É uma técnica que hoje tem sido menos usada, porque não tem sentido fazer inseminação porque o sêmen é ruim, não vai melhorar fazendo uma preparação no laboratório e talvez não chegue a ser tão bom quanto o muco cervical da mulher. Se for um problema de trompa, de ovário, também não tem sentido fazer a técnica da inseminação, que hoje deve ser utilizada nos casos ou de sêmen de doador ou então de muco cervical inexistente ou péssimo. A fertilização in vitro consiste em poder tirar os óvulos do ovário da mulher, levar ao laboratório, encontrar com os espermatozóides e injetar dentro do óvulo, formar o embrião e devolvê-lo pronto ao útero.
C&T - O sr. costuma utilizar sêmen de doador nas fecundações assistidas que realiza?
Abdelmassih - Há cada vez menos necessidade de indicar para o casal sêmen de doador, porque hoje, pela tecnologia moderna, nós podemos resolver o problema com a técnica de Injeção Intra-Citoplasmática de Espermatozóides (ICSI), que é a injeção do espermatozóide dentro do óvulo tirando o até de dentro do testículo, porque em cada cem homens 96 quando ejaculam têm muito espermatozóide de má qualidade e boa qualidade, pouco espermatozóide de má ou boa qualidade, mas têm espermatozóide. Dos quatro que ejaculam e não têm espermatozóide, três o têm dentro do testículo e um, que não tem espermatozóide, metade deles têm células pré-espermatozóides que podem ser amadurecidas e injetadas dentro do óvulo. Então, praticamente a grande maioria dos homens hoje pode geneticamente ser pai.
C&T - Qual é a sua opinião sobre a concepção post-morten, ou seja, o uso de sêmen de doador já falecido?
Abdelmassih - Acho que depende muito. Se aquele casal pretendia ter um filho, realmente se amavam e o marido tinha guardado o sêmen por alguma razão ou preocupação futura, então talvez seja válido. Tive um cantor, de uma dupla sertaneja famosíssima, que ao se saber com câncer resolveu congelar sêmen para usar posteriormente, porque acreditava que depois da quimioterapia poderia se curar e querer ser pai novamente. Isso não ocorreu, ele morreu e o sêmen foi desprezado porque não deixou qualquer orientação. Se tivesse dado orientação para que se usasse teria sido feito.
C&T - Que solução o sr. propõe para o destino dos embriões congelados?
Abdelmassih - Os embriões que são congelados e não usados devem ser doados ou usado em pesquisas, avaliações etc. Não vejo grandes problemas porque também não entendo que os embriões sejam vida. O embrião é vida no momento em que ele nada, que gruda dentro do útero, embrião não é vida por si só.
C&T - Então o começo da vida ocorreria no momento em que o embrião se fixa no útero?
Abdelmassih - A própria Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1986, já esclareceu isso, estabelecendo que a vida começaria no estágio acima de blastocisto, que é o momento em que o embrião nida naturalmente dentro do útero.
C&T - O sr. considera ético determinar o sexo de um bebê?
Abdelmassih - De uma forma geral não acho adequado. Agora coloco a seguinte situação: um casal que tenha quatro filhas ou quatro filhos será que não tem o direito de querer ter mais um filho exatamente para balancear a sua família? Será que não tem o direito de usar uma tecnologia que vai ajudá-los, por que não? Nessas condições acho que é ético, não o primeiro, segundo ou até terceiro filho ser feito com a determinação do sexo. Mas um casal que tenha três ou mais filhos de um sexo, entendo que talvez possa valer a pena ajudá-los.
C&T - E a escolha, por exemplo, da cor dos olhos, ou o descarte de bebês com a Síndrome de Down, o sr. concorda?
Abdelmassih - A biópsia do embrião foi feita exatamente para detectar doenças nele e não no feto em crescimento e aí concordo que seja feita a biópsia do embrião exatamente para a Síndrome de Down e outras coisas.
C&T - Que outros problemas genéticos podem ser identificados com a biópsia do embrião?
Abdelmassih - Vários. Síndrome de Down, de Edwards e tantas outras que hoje por técnicas de PCR (Polimerase Chain Reaction) podem também ser detectadas.
C&T - O sr. é a favor da clonagem?
Abdelmassih - A clonagem terapêutica ainda não apresenta condições viáveis de, por exemplo, gerar células tronco, pois a formação embrionária ainda não é suficiente para isso. E a clonagem reprodutiva ainda necessita de muita pesquisa, para que não nasçam pessoas com problemas graves de saúde.
C&T: O sr. faz redução embrionária?
Abdemassih - Não sou adepto da redução embrionária e temos trabalhado só com dois ou três embriões na transferência para o útero.
C&T - É possível engravidar na menopausa?
Abdelmassih - Pode. Quando uma mulher não tem mais óvulos, enquanto não lhe criarmos um óvulo em laboratório nós podemos usar óvulos de doadores e ela será mãe do mesmo jeito, porque mãe é quem gesta, assim, podemos ajudar uma mulher que não tem mais produção de óvulos ser mãe.