São Luís - Uma montanha de ferros retorcidos e calcinados foi tudo que restou da torre de lançamento de 32 metros de altura de onde partiria esta semana para o espaço o terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites, o VLS 1.
O incêndio de sexta-feira passada, no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, que teve início com o acionamento prematuro de um dos motores do primeiro estágio do foguete, gerou um calor de cerca de 3 mil graus, matando os 21 técnicos e engenheiros que estavam na plataforma e queimando tudo numa área de 50 metros ao redor da base.
A tragédia foi presenciada por outros 23 técnicos que estavam abrigados numa casa a 53 metros da base e que é usada como escritório de apoio durante os testes de lançamento simulado do foguete.
Nas palavras do vice-diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), de São José dos Campos (SP), engenheiro Mauro Dolinky, que integra a Comissão de Investigação do acidente, "o que mais dói na remoção de cada pedaço de ferro é lembrar que essa torre simbolizava o sonho de cada uma das pessoas que trabalham no projeto, que era o de ver em órbita da Terra um satélite brasileiro, construído com tecnologia nacional e levado ao espaço por um foguete desenvolvido no Brasil.
Na visita de hoje ao local do acidente, os jornalistas encontraram um clima de tristeza e homens removendo cuidadosamente peças de ferro com os olhos marejados de lágrimas. "É uma situação difícil, pois em cada peça que se toca, a cada pedaço que se olha é impossível deixar de lembrar dos homens que há quatro dias aqui trabalhavam, alegres, confiantes e num clima de muito entusiasmo, disse o Major Brigadeiro, Tiago Ribeiro, diretor do IAE.
Na pequena cidade de Alcântara as pessoas se dividem entre assustadas e desoladas. Algumas delas, apesar dos esclarecimentos dados pelos oficiais da Aeronáutica, ainda temem que possam ocorrer outros acidentes; enquanto outras lamentam a morte de pessoas que ainda na semana passada faziam compras no pequeno comércio da cidade.
Os comerciantes também estão preocupados, pois a presença dos técnicos na base deixava Alcântara mais movimentada, pois muitos turistas visitavam a cidade motivados pela existência da instalação militar e pela curiosidade que o local desperta.
O mesmo clima de consternação entre aqueles que trabalham na remoção dos escombros é sentido entre as pessoas, que também acreditam que o atraso na seqüência do projeto de lançamento de um novo protótipo será prejudicial ao desenvolvimento da cidade.
Em São Luis, o acidente também é o tema principal entre a população, pois ocupa a primeira página dos três jornais diários e está presente em todos os boletins informativos das rádios e emissoras de TV. Algumas pessoas se mostram otimistas com relação a continuidade do projeto e são favoráveis a manutenção da base militar, enquanto outros acham que os lançamentos de foguetes representam um risco para a cidade e que o melhor seria transferir o centro de lançamento para outra região.
Jornalistas dos principais veículos de informação do país e de duas agências estrangeiras estão na cidade desde o último fim de semana. Muitos, diante da plataforma tombada pela ação das chamas, ficaram vários minutos com o olhar fixo se integrando à tristeza dos homens que removiam, com cuidado, partes do foguete praticamente irreconhecível.