Carolina Pimentel
Brasília - De 15 a 18 setembro, cerca de dois mil farmacêuticos, estudiosos e consumidores vão se reunir em Brasília para repassar os problemas e discutier soluções para o setor de medicamentos no país, na Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica. A idéia do Ministério da Saúde é detectar os problemas e elaborar uma política para o setor ao final do encontro.
Segundo a coordenadora do evento, Clair Castilho, o primeiro obstáculo já aparece logo na produção dos remédios. A maioria deles é produzida por laboratórios estrangeiros. Com o controle do mercado e sem concorrentes, as multinacionais impõem aos consumidores altos preços e, muitas vezes, deixam de lado o comprometimento com a qualidade. "O governo não tem como competir com os laboratórios. Fica à mercê deles", explica a farmacêutica.
Para tentar diminuir o poderio dos estrangeiros, o governo está elaborando um plano para retomar a produção dos laboratórios estatais, pelo menos para concorrer na linha de remédios mais usados pela população. Além da produção centralizada, a distribuição também está concentrada nas mãos de poucos. De acordo com Clair Castilho, mais de 80% da distribuição dos medicamentos é feita por farmácias privadas. "O Sistema Único de Saúde piora este cenário, pois é fraco e desorganizado", ressalta.
A união desses problemas já relata uma situação complicada que se agravou com as denúncias de fraudes, preços abusivos e de falsificação levantadas pelas Comissões de Inquérito Parlamentar instaladas na Câmara dos Deputados. "O relatório produzido pelos deputados foi determinante para a instalação dessa conferência", explica Clair Castilho.
Segundo o documento da CPI dos medicamentos, apresentado em junho de 2000, mais da metade dos princípios ativos utilizados no país vêm do exterior. A dependência brasileira em relação às multinacionais torna o setor um dos mais difíceis de reduzir preços. O documento mostrou ainda que de 1990 a 1998, o valor dos remédios subiu 300%. De acordo com o relatório, o Brasil é o quinto país mais procurado para investimentos na produção de medicamentos.
Quanto aos genéricos, a sanitarista disse que os similares estão em fase de implantação, por isso ainda há dificuldade de encontra-los. Ela acrescentou que a resistência das farmácias e das drogarias em vendê-los é outro fato que dificulta a entrada desses produtos no mercado. "É preciso que a população exija o medicamento mais barato", completa.
Além do evento em Brasília, a questão dos remédios será debatida em conferências estaduais até o final deste mês. Além da concentração do mercado, a propaganda de medicamentos nos veículos de comunicação e o modelo farmacêutico para o SUS vão estar na pauta da conferência nacional.
19/08/2003