Parlamentares brasileiros culpam Estados Unidos e ONU pelo atentado em Bagdá

19/08/2003 - 18h45

Marcos Chagas e Raquel Ribeiro
Repórteres da Agência Brasil

Brasília, 19/8/2003 – Desde o anúncio da morte do alto comissário de Direitos Humanos das Nações Unidas, Sérgio Vieira de Mello, hoje, no Iraque, parlamentares brasileiros questionam se o episódio não poderia ter sido evitado pelo governo norte-americano ou pela própria instituição. Amigos pessoais do brasileiro, os deputados Paulo Delgado (PT-MG) e João Hermann Neto (PPS/SP) culparam a administração do presidente George W. Bush e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pelo aumento da violência em Bagdá, que culminou no atentado contra a sede da organização.

"Os Estados Unidos são parte do conflito no Iraque, e ao não se retirarem após a guerra, ampliaram as dúvidas sobre a posição das Nações Unidas. A presença dos soldados (norte-americanos e aliados) como força de paz está criando uma confusão no Iraque", disse Delgado. Para ele, a permanência dos americanos em Bagdá fez com que o governo Bush envolvesse a ONU numa guerra que a entidade não autorizou. Para o parlamentar, o episódio de hoje é de tamanha gravidade que pode levar o governo norte-americano a um processo no Tribunal Penal Internacional, na Corte de Haia.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Suplicy (PT-SP), concordou com a avaliação. Ele lembrou que o próprio Vieira de Mello havia alertado por duas vezes sobre os riscos que a presença dos aliados significava à consolidação do processo de paz no Iraque. "Certamente a ocupação prolongada está causando uma grande inquietação", resumiu.

Os senadores fizeram um minuto de silêncio durante a sessão da tarde de hoje em homenagem ao alto-comissário.

Na semana passada, o embaixador defendeu a retirada dos soldados norte-americanos junto ao governo Bush e pediu o restabelecimento dos serviços de água e energia elétrica suspensos desde o início da guerra. Ontem, em entrevista a correspondentes estrangeiros, Vieira de Mello voltou a bater nesta tecla ao dizer que a permanência dos americanos em Bagdá era comparável à presença de tanques estrangeiros na praia de Copacabana.

O deputado João Hermann avaliou que o atentado pôs um ponto final na história das Nações Unidas. "Acho que quem deve ser acusado é o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Se ele tivesse um pouco de responsabilidade histórica, renunciaria porque na verdade a ONU é que foi atingida. Com o atentado, se esgota hoje o papel da ONU", disse.