Brasília, 19/8/2003 (BBC Brasil) - O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, condenou nesta terça-feira o atentado que destruiu parte da sede da ONU em Bagdá e deixou 15 mortos, incluindo o brasileiro Sérgio Vieira de Mello - representante especial das Nações Unidas no Iraque.
Em Crawford, no Texas, Bush disse que "o mundo civilizado não será intimidado e esses assassinos não vão determinar o futuro do Iraque." Apesar de não anunciar novas medidas de segurança, o presidente americano afirmou que vai "perseverar diante de qualquer dificuldade".
"O Iraque está em um caminho irreversível rumo ao seu próprio governo e à paz. Os Estados Unidos e nossos amigos das Nações Unidas vão permanecer ao lado do povo iraquino", disse Bush.
Golfe
O presidente americano interrompeu uma partida de golfe para dar as declarações e, em seguida, voltou ao seu rancho, de onde acompanharia o desenrolar dos fatos durante o dia.
De acordo com o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, durante a partida, Bush recebeu vários telefonemas com notícias sobre o ataque. O presidente americano afirmou que, ao tentar espalhar o caos e o medo, os "terroristas" estão testando o "mundo civilizado". "Pelo mundo afora, eles estão descobrindo que nossa determinação é inabalável."
Pelo menos 61 militares americanos foram mortos no Iraque desde o dia 1º de maio, quando os Estados Unidos declararam o fim dos principais combates no país. "Todos os sinais de progresso no Iraque aumentam o desespero dos terroristas e dos remanescentes do regime brutal de Saddam", afirmou Bush.
A ONU desempenha um papel limitado no Iraque pós-guerra. As forças lideradas pelos Estados Unidos cuidam da segurança e do governo do país. As Nações Unidas tinham mais um papel de observadora e também trabalhavam no fornecimento de ajuda humanitária.
Jean Krasno, diretora-executiva do Conselho Acadêmico da ONU, baseado na Universidade de Yale, autora do livro O Papel da ONU no Iraque, disse que o ataque "é um revés enorme para a ONU no Iraque e para o próprio Iraque, já que o trabalho de reconstrução da organização estava servindo como um contrapeso ao papel mais agressivo dos Estados Unidos." "Havia muita esperança no trabalho de Sérgio Vieira de Mello", disse Krasno.
Condenação
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, divulgou uma nota afirmando que todos na instituição estão "chocados" e "desolados". A nota também diz que os responsáveis pelo ataque serão "trazidos à Justiça".
O atual presidente do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador sírio Fayssal Mekdad, disse que o ataque não vai diminuir "a determinação da comunidade internacional em intensificar sua ajuda ao povo iraquiano". Já o comissário interino de Direitos Humanos da ONU, Bertrand Ramcharan, disse que o ataque teve como alvo as pessoas que trabalhavam para recuperar o Iraque "da guerra e de anos de opressão".
Vários países usaram adjetivos fortes para classificar o ataque. O governo russo o chamou de "bárbaro" e o britânico classificou a explosão como uma "atrocidade". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Sérgio Vieira de Mello foi "vítima da insanidade do terrorismo" e declarou três dias de luto oficial no Brasil.
Na Granja do Torto, Lula pediu um minuto de silêncio durante a cerimônia para recepcionar o presidente do Chile, Ricardo Lagos.
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