Brasília, 14/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Analistas da área econômica acreditam que será difícil atrair investimentos de empresas privadas para os programas de infraestrutura inclusos no Plano Plurianual de Investimentos 2004-2007, conforme pretende o governo federal. Na avaliação do analista da Global Invest, Daniel Thá, para garantir a parceria privada, o governo precisa adotar medidas a curto prazo, entre elas reduzir as taxas de juros, desonerar tributos, estabilizar o Real, e lutar contra a volatilidade do dólar. "Isso ajudaria a garantir que empresários e investidores externos diretos voltassem a investir no Brasil. É preciso mostrar que o país vai crescer, que o empresário será capaz de melhorar a produtividade e comprar suas máquinas em dólares", afirma Daniel.
Segundo ele, o empresário se sente desestimulado a investir no setor produtivo e é atraído pelo aumento da remuneração do mercado financeiro. Outra medida sugerida pelo analista é que o Brasil adote uma seletividade de capitais, que o país seja capaz de evitar o capital especulativo, impondo pagamento de taxas quando o investimento for retirado antes do tempo, como acontece com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O economista Armando Franco, da consultoria Tendências, concorda que o investimento em infra-estrutura é fator essencial para o crescimento do país, mas ressalta que para que a parceria com a iniciativa privada funcione, o governo precisa adotar uma postura menos intervencionista. Precisa também, segundo Armando Franco, definir prioridades. "O programa é muito grande e há poucos recursos para as necessidades do país. Então é preciso escolher que setores beneficiar. Se o essencial é o social, a infra-estrutura ou o pagamento da dívida do país. É fazer uma coisa por vez", destaca o economista.
Segundo Armando, o setor mais fácil de atrair investimentos é o de infra-estrutura por ser um segmento mais concentrado, porém para isso, o governo deve definir um marco regulatório. O economista Daniel Thá ressalta que a infra-estrutura está sujeita a investimentos a muito longo prazo. O investimento na construção de uma hidrelétrica de uma empresa de médio porte é de 30 anos, exemplifica. Daniel lembra ainda que o nível de poupança interna do país é baixo de forma que não consegue alavancar o investimento na proporção necessária para infra-estrutura.
De acordo com Daniel Thá, o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) engessa os investimentos em infra-estrutura porque o acordo prevê a garantia do superávit primário, em detrimento de investimentos. O ministro do Planejamento Guido Mantega anunciou que o governo vai investir R$ 191,4 bilhões em quatro anos, e que, somente na infra-estrutura, o governo deverá aplicar R$ 35 bilhões nos programas previstos pelo PPA. Na avaliação de Thá, o país tem dificuldade de crescer porque não consegue pagar sua dívida. Além disso, afirma Daniel, o valor estimado para a infra-estrutura é menor que os gastos do país em um ano com pagamentos de juros da dívida total do setor público, que somou R$ 197 bilhões no acumulado de julho de 2002 a junho deste ano. A dívida total do Brasil, externa e interna, somam R$ 856 bilhões.
Daniel Thá comentou que o possível aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) para financiar obras de infra-estrutura é uma enorme incongruência. "O país combate a inflação com taxa de juros, mas se aumentar impostos, vai gerar inflação de outro lado, correndo o risco de aumentar o preço dos combustíveis, já que a CIDE corresponde a R$ 0,54 do preço do litro do combustível", constata.