Brasília, 14/82003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, durante a cerimônia de entrega dos relatórios do Plano Plurianual (PPA), que nada impedirá o seu governo de realizar o projeto de transposição de águas do Rio São Francisco. Isso porque, segundo o presidente, o governo e a sociedade chegaram a um consenso sobre a questão.
Resolver o problema da seca no Nordeste foi uma prioridade constatada pelas entidades chamadas a opinar sobre a destinação dos recursos do PPA no período de 2004 a 2007. A transposição de águas do São Francisco viabilizará vários polos econômicos e a pernização de diversos rios no seco sertão nordestino, onde milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza. O Velho Chico, como também é conhecido, banha seis estados e é a principal fonte geradora de energia para o Nordeste.
Lula lamentou que um projeto tão importante tenha sido protelado até hoje. "Nós temos a responsabilidade de discutir o custo da obra mas, antes disso, temos que discutir quanto custou nos últimos 160 anos não fazer a transposição", destacou Lula. Ele voltou no tempo para exemplificar o descaso com o problema. "Em 1847, Dom Pedro teve a idéia de fazer a transposição das águas, o que significa que, naquela época, o imperador já havia detectado que o problema da seca era grave", lembrou. Segundo o presidente, o projeto não saiu do papel pelos mesmos motivos atuais: a falta de recursos.
Apesar de disposto a brigar pela implantação do projeto que, segundo o ministro Guido Mantega, custará cerca de US$ 5 bilhões, o presidente reconheceu as dificuldades financeiras. Ele salientou que nem tudo o que foi sugerido terá orçamento disponível para ser colocado em prática no primeiro momento. "O governo funciona que nem a casa da gente. O dinheiro é sempre menos do que aquilo que precisamos", disse.
Ele comparou o orçamento do governo ao salário do brasileiro. "Você sabe que quem trabalha e recebe um contra-cheque no final do mês pode ter 40% de aumento no mês de agosto. No primeiro mês, nota o aumento, mas no segundo acha pouco e já está querendo mais".
O presidente citou a preocupação ambiental como uma das principais diretrizes presentes no projeto elaborado pela sociedade. Ele garantiu que serão respeitados os aspectos da legislação ambiental para qualquer projeto pensado pelo governo. "Até porque, se deixamos isso de lado, o Ministério Público entra com ação e a obra fica embargada ", salientou.
O Ministério do Meio Ambiente e o Ministério Público, conforme o presidente, deverão participar das obras desde o início para que os problemas sejam evitados preventivamente. "Se for preciso fazer uma curvinha por conta de uma decisão do meio-ambiente, a gente pode fazer uma ou duas. Não tem problema. Queremos dar as curvas necessárias para que o projeto do São Francisco saia o mais bem feito, ecologicamente falando". Ele disse esperar também que o projeto seja "o mais bem feito que a nossa engenharia possa produzir", a fim de que se alcance o melhor resultado social para o país.
Lula classificou como "de cumplicidade" a relação criada com a sociedade a partir da consulta pública para a elaboração do PPA. Ele negou que o documento seja um mecanismo de cobrança mútua. Participaram do projeto 2.170 entidades representativas da sociedade, entre organizações não governamentais, associações de bairro, sindicatos e representantes de minorias.
Lilian Tahan e Roberta Melo