Brasília, 14/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - A academia britânica de ciências (Royal Society) abriu inquérito para apurar como as pesquisas científicas são divulgadas. A decisão foi tomada depois de disputas sobre a confiabilidade de alguns estudos que, embora publicados em jornais científicos, seriam baseados em interpretação falsa ou errônea de resultados. Também há preocupação com a atuação de organizações que anunciaram descobertas pela imprensa, mas depois não apresentaram provas que confirmassem a veracidade das mesmas.
Um grupo de trabalho da Royal Society vai apurar como é feita a verificação de informações de pesquisas que podem influenciar a opinião pública e a formulação de políticas. Assim, a academia poderá recomendar a mudanças e diretrizes a serem adotadas pelos cientistas. A maior parte das pesquisas é "revisada por colegas" - outros especialistas analisam os resultados antes de serem publicados em um jornal especializado.
O processo deve garantir que qualquer metodologia de pesquisa seja consistente e que a interpretação dos resultados obtidos não extrapole o que se considere racionalmente justificável. A revisão objetiva ser um padrão para proteger outros cientistas e o público de pesquisas mal feitas e anúncios de descobertas fraudulentos. Mas o sistema não satisfaz todos, e há algum receio de que várias publicações especializadas estejam incluindo em suas páginas pesquisas apenas para aparecer em manchetes na grande imprensa.
O vice-presidente da Royal Society, Patrick Bateson, que presidirá o inquérito, disse que "a revisão por colegas tem sido criticada por ser secreta demais, realizada a portas fechadas e verificada por árbitros anônimos". Segundo ele, também houve sugestões de que o processo é usado pelo establishment para "impedir que idéias, métodos e visões pouco ortodoxas tornem-se públicas independentemente de seu mérito".
Para Bateson, a revisão pela comunidade científica é uma boa garantia e qualquer pessoa que analisar um estudo científico - principalmente jornalistas - deve sempre verificar se ele foi checado por outros pesquisadores. "Histórias que chegam aos meios de comunicação sem ter sido adequadamente revisadas podem trazer graves danos", ressalta Bateson. (BBC Brasil)