Brasília, 13/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, afirmou hoje que o banco vai investir em empresas estrangeiras, sobretudo no financiamento da integração física na América do Sul. Ele destacou que a relação do BNDES com a América do Sul é antiga, principalmente na exportação de máquinas e equipamentos agrícolas e que faz parte da rotina de um banco que ocupa papel de financiador de exportações.
Durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Carlos Lessa ressaltou a necessidade dos governos sul-americanos investirem em infra-estrutura e, como exemplo, mencionou o investimento do BNDES para a construção da ponte do rio Orinoco, na Venezuela. "O Brasil é o país com o maior número de fronteiras e a interação com os países vizinhos precisa ser fortalecida. O Caribe é uma ótima janela para a exportação de soja de Roraima", exemplifica Lessa.
Sobre o investimento do BNDES em empresas estrangeiras e a retenção de recursos para a Embraer, empresa nacional, Carlos Lessa disse que a empresa aérea recebe recursos e que seus aviões são exportados para empresas de outros países. "Temos operações gigantescas com empresas de transporte aéreo nos EUA. Quando o BNDES abre uma linha para a Venezuela é a mesma coisa que abrir uma linha de apoio a Embraer. A construção da ponte sobre o rio Orinoco é financiada pela Norberto Odebrecht e as máquinas e equipamentos utilizados foram comprados do Brasil. No momento, o BNDES só empresta para países que compram produtos nacionais porque não tenho como financiar empresa de um terceiro país que compra de um quarto país. O que o BNDES faz é financiar vendas de empresas brasileiras para outros países", esclareceu o presidente do BNDES.
Lessa declarou que existe a intenção do governo brasileiro em aprofundar as relações com a Argentina, Venezuela e Bolívia, mas que beneficie também o Brasil. "O Brasil se preocupa com uma nova pauta que permita diplomacia comercial mais adequada para ele. Uma das preocupações é que o país tem contrato com a Bolívia para adquirir gás boliviano, mas o contrato dificulta a tarifa de energia para o Brasil", disse. Segundo Lessa, o Brasil está decidido a intensificar o comércio com a Argentina e já existem manifestações de interesse de empresas brasileiras em exportar e importar para esse país.
LESSA DEFENDE FLEXIBILIZAÇÃO NO ACORDO COM FMI
O presidente do BNDES, Carlos Lessa, voltou a defender hoje a flexibilização no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que, segundo ele, deverá ser renegociado em setembro. Lessa defende que o país voltará a crescer se os investimentos públicos forem bancados pela componente depreciação e custo financeiro, e não pelo seu valor global. Ele fez uma comparação aos países europeus.
"Para ter superávit primário é preciso cortar investimento. Na Europa, o investimento é aceito não pelo valor, mas pela depreciação mais os juros encurtados. Os municípios brasileiros só podem investir R$ 200 milhões ao ano e existem 2 mil municípios que atendem a lei da responsabilidade fiscal, estão com as dívidas sanadas, mas não podem investir. Outro caso são as estatais, que são lucrativas mas também não podem investir porque, pela definição do FMI, estará ampliando o gasto público", ressalta Lessa.
De acordo com o BNDES, o banco vai fechar o ano com orçamento de R$ 34 bilhões. A demanda do setor industrial tem sido inferior ao projetado pelo banco, enquanto a de pequenas e médias empresas tem crescido. O orçamento do BNDES para 2004 será de R$ 47 bilhões. Desse total, entre 25% e 30% deverão ser investidos em infra-estrutura. Ao anunciar o número, o presidente do banco, Carlos Lessa, lembrou que as áreas consideradas de infra-estrutura pelo BNDES são mais amplas que as do Plano Plurianual 2004-2007 (PPA) porque incluem petróleo, gás e telecomunicações.
Segundo Lessa, nos próximos anos o BNDES vai investir entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões ao ano no setor de infra-estrutura. Sobre a fusão Varig-Tam, o presidente do BNDES afirmou que só vai estudar proposta quando houver um pleito formal ao banco.