Brasília, 13/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - A preocupação dos empresários industriais com a reforma tributária foi manifestada ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Horácio Lafer Piva, durante um café da manhã no Ministério. Ao deixar o encontro, Piva afirmou que o relatório do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) "lida muito bem com o relacionamento entre os entes governamentais, mas deixa um pouco de lado a produção", considerada por ele "a galinha dos ovos de ouro".
Piva apresentou ao ministro algumas reivindicações do setor para a reforma tributária, entre elas a desoneração de investimentos e o excesso de poder que pode "ser concedido ao Confaz" (Conselho Nacional de Política Fazendária). E disse temer o fato de a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, o imposto do cheque) não se tornar apenas "fiscalizatória", mas sim "arrecadatória". Mas elogiou a reforma, por retirar do País a "pecha de retardatário e de falta de competitividade".
Sobre suas críticas à proposta, Piva disse que o texto enviado ao Legislativo é cheio de fragilidades e mais centrado em resoluções, como a redução de alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), e não tratava da demanda do empresariado. "Fizemos uma série de emendas, apresentadas antes, e agora estamos conversando com o ministro para ver onde ele pode influir na redação final do parecer e onde é que nós vamos ter que agir no Congresso Nacional. Palocci sinalizou que vai ajudar em algumas questões", informou.
Depois de afirmar que "o diabo mora nos detalhes", Piva enfatizou que inicialmente aprovou os pontos da reforma tributária, mas quando chegou na redação final e no detalhamento, o texto acabou deixando os empresários preocupados.
Crescimento e Juros
O presidente da Fiesp também levou ao ministro da Fazenda a preocupação do setor com a queda expressiva da atividade econômica, os estoques altos e "os pátios das montadoras cheios". Segundo Piva, os dois discutiram formas de superar essas dificuldades e os projetos que podem ser implementados para aquecer a economia.
O empresário não quis revelar se apresentou algum plano de desenvolvimento ao ministro, mas disse que Antonio Palocci tem preocupações idênticas às dos industriais em relação ao assunto, além de saber quais os setores que precisam de mais apoio no curto, médio e longo prazos.
O ministro, acrescentou, estuda incentivos para outros setores, como fez com a indústria automobilística. "Na verdade, qualquer setor que possa aquecer o consumo e gerar emprego vai ter o apoio e o ministro estuda isso. É o caso da linha branca (geladeiras, máquinas de lavar e fogões) e da construção civil, que permitem o consumo e demandam mão de obra. Esses precisam de uma espécie de apoio para que se desenvolvam", disse Piva.
E citou também os setores de siderurgia e celulose entre os que precisam de investimentos para expandir a produção, pois "estão batendo no teto da capacidade instalada". Se estes setores crescerem, na opinião do empresário, poderão ajudar ainda mais a balança comercial, por captarem um volume maior de dólares no exterior. "O Brasil tem que entrar nos mercados tradicionais, mas também na China, na Índia e na Rússia".
Piva admitiu, no entanto, que Palocci administra escassez e conflitos, além de lidar com pressões, seja do governo, seja da sociedade. Por outro lado, fez questão de enfatizar que o setor tem pressa para vencer a crise, incluindo a percepção negativa em relação à economia.
Sobre o segundo semestre, ele disse confiar em melhor desempenho. "O problema é que de agosto a setembro é o melhor período para a produção, mas neste ano vai ser apenas de desova de estoque por parte da indústria. Vamos empurrar um pouco a produção para mais adiante. O crescimento ficará em apenas 1,5%", previu.
O empresário cobrou ainda, do ministro, uma redução mais agressiva dos juros. Para ele, "a redução do compulsório foi muito boa para irrigar o mercado" com crédito, mas é preciso insistir na redução da taxa de juros, porque "o país não precisa mais dessas taxas". Segundo Piva, "o ministro concorda que estamos trabalhando num patamar muito alto de taxas de juros".
Antes de retornar para São Paulo, o empresário afirmou que nunca brigou com o Governo Lula e que a Fiesp "é apenas um órgão de pressão construtiva e propositiva, não de adesão". E concluiu: "Elogiamos aquilo que está certo – e basta ver a nossa manifestação a favor da aprovação da reforma previdenciária, que foi bem".