Taylor acredita que ainda voltará ao poder e que a história lhe será gentil

11/08/2003 - 13h25

Monróvia, Libéria (Agência Brasil-ABr/CNN) -- O presidente da Libéria, Charles Taylor, renunciou essa manhã, por pressão dos Estados Unidos e de lideranças dos países do África Ocidental, 14 anos depois de ter liderado uma rebelião que o levou ao poder e que se tranformou em uma sangrenta guerra civil.

Antes de passar o poder ao vice-presidente Moses Blah, numa cerimônia na capital, Monróvia, Taylor pediu ao mundo que não abanonasse o povo da Libéria.

Blah, que assumiu o poder como o 22º presidente da Libéria, só ficará no cargo até outubro, quando será substituído por uma administração também provisória.

Taylor, que aceitou asilo político oferecido pela Nigéria, deve deixar o país na companhia de um dos presidentes africanos que estiveram presentes à transmissão do cargo, segundo informou o correspondente da CNN na Monróvia, Jeff Koinange. Participaram da cerimônia o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki; de Moçambique, Joaquim Chissano, que é presidente em exercício da União Africana (UA); e o presidente de Gana,John Kufuor.

Ele disse aos convidados: "é importante que a comunidade internacional aceite o dia de hoje como uma oportunidade de ajudar o povo da Libéria. Eles não têm desculpas."

Mas a situação do povo da Libéria continua complicada. Na capital, a ONU estima que há 450 mil pessoas fora de casa. Em todo país, há mais de um milhão de desabrigados - cerca de um terço da população do país. Milhares de pessoas morreram nos últimos três anos. A fome e as doenças tomaram grandes proporções.

Taylor chegou a lembrar na cerimônia de hoje que a história será gentil com ele. No discurso de ontem, ele condenou as pressões do governo norte-americano,disse que deixava o poder para salvar a vida dos seus cidadãos e acrescentou : "com a graça de Deus, eu voltarei"

Em 1989, Taylor liderou a rebelião que resultou na morte do ditador Samuel Doe e que desencadeou a guerra civil. Cerca de 200 mil pessoas morreram nos sete anos seguintes em consequência da luta de facções pelo poder. "Eu liderei uma justificada revolução popular por mudanças", disse ele

A facção liderada por Taylor emergiu como força dominante nos anos seguintes e, quando eleições especiais foram convocadas em 1997, o Partido Nacional Patriótico, de Taylor, venceu com votação surpreendente. Os partidos de oposição denunciaram que houve corrupção.

Em 2000, rebeldes lançaram novo desafio, anunciando que queriam o retorno da democracia. Forças militares leais a Taylor trataram de esmagar o novo levante.

O Tribunal Internacional contra crimes de guerra, apoiado pelas Nações Unidas, acusou o ex-ditador liberiano de ter ajudado e treinado rebeldes para combates em Serra Leoa, em troca de diamantes. Os rebeldes do país vizinho também respondem por práticas de tortura, estupros e morte de milhares de civis.Taylor negou todas as acusações contra ele.

Blah e a reunificação

Blah disse hoje que ele está 100 por cento seguro de que poderá trazer a paz ao país, tão logo Taylor abandone a Libéria e apelou aos rebeldes do grupo Liberianos Unidos pela Reconciliação e Democracia(Lurd) para trabalhar pela unidade do país.

"Eu estou fazendo um chamamento aos rebeldes porque sou um unificador", disse Blah à CNN. "Deixe que eles venham, deponham as armas e me ajudem a governar. Eu não tenho interesse em ser presidente desse país. Eu só quero reunificá-lo."

Desde o início o Lurd rejeitou Blah como sucessor de Taylor e disse que continuará participando em Gana das conversações para a formação de um governo de transição.

Há 800 soldados da força de paz estacionados na Libéria. Eles foram enviados pelos países da África Ocidental comprometidos com as negociações paz para a região que estão acontecendo na Nigéria. Eles chegaram à Libéria na semana passada.

Os Estados Unidos mantêm 2.300 fuzileiros navais em barcos ancorados na costa liberiana, mas ainda não decidiram que papel terão no processo de paz da região.