Brasília, 11/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Aos gritos de que "aqui tem", confirmando a presença de um tenista que já levou o Brasil à semifinal da Copa Davis, em 2000, semifinalista de Roland Garros e quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos EUA, o tenista brasileiro Fernando Meligeni resumiu com um desabafo a garra de toda uma carreira que estava para se encerrar. Assim, o brasileiro Meligeni gritou quando quebrou o serviço que o chileno Marcelo Ríos que só precisava confirmar para ganhar a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, República Dominicana.
"Se no futuro alguém perguntar: quem foi o Meligeni, basta olhar esse vídeo para ver que foi um tenista que sempre lutou até a última bola, correu, se jogou. Até tropecei na hora de subir ao pódio, de tão cansado. Se não fosse assim, não seria eu", disse Fininho, como é conhecido no circuito do tênis, depois da 'guerra' de duas horas e 53 minutos da final contra Ríos, que terminou com sua vitória por 2 sets a 1, parciais de 5/7, 7/6 (8/6) e 7/6 (7/5), e fechou ontem (10), seus 14 anos de carreira com o ouro, na quadra central do Complexo de Tênis do Parque del Este.
Fernando Meligeni não tinha dúvida de que foi, aos 32 anos, o momento que resumiu toda a sua trajetória. Com uma diferença: "Na minha carreira, tive duas ou três grandes emoções e não consegui chegar ao final como agora. Foi nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 96, quando eu não ganhei a medalha, e em 99, em Roland Garros, quando eu fui até a semifinal,
mas não cheguei à disputa do título. A única coisa que passou pela minha cabeça era que hoje eu tinha que chegar até o fim. Talvez tenha sido o que me alimentou a lutar tanto durante o jogo".
Ele garante que sabia que a vida lhe reservaria um momento tão especial no final de sua carreira. "Ainda bem que pude planejar o fim da carreira em um Pan, mas em um Pan que tinha o Marcelo Ríos e que valorizaria a minha conquista. Não seria uma conquista que ia ser menosprezada por conta de adversários não tão conhecidos", analisou, referindo-se às qualidades do chileno ex-número 1 do mundo e para quem tinha perdido em todas as outras cinco vezes em que se enfrentaram.
A 12ª medalha de ouro do Brasil no Pan começou a se definir, mais ou menos, há uns 18 anos, época em que o argentino de nascimento Fernando Meligeni resolveu se naturalizar brasileiro, depois de ter vindo morar no Brasil com quatro anos, porque o pai, o fotógrafo Oswaldo, vira numa proposta de trabalho no Brasil uma forma de escapar da repressão do regime militar na Argentina. "Não agüentava mais ser chamado de 'argento', no Brasil, e de 'brazuca', na Argentina.
Mas, dessa mistura louca, acabou saindo uma coisa legal", se auto-definiu: mistura de raça e irreverência, que o fez se dar bem no esporte mesmo com o físico franzino (que originou o apelido Fininho) ao perceber que, para ganhar, teria que correr mais e cansar os adversários. Mistura que conquistou a torcida na final deste domingo.
Ao longo do jogo que se recusava a entregar, o brasileiro ganhou a simpatia de todos os presentes que não eram chilenos. Começou a ganhar a simpatia e o jogo justamente no 10º game do segundo set, quando bastava a Ríos confirmar seu saque para vencer o jogo e a torcida chilena, em maior número na arquibancada, já gritava: "Oro, oro".
Famosos - como o tricampeão do Pan na classe lase da Vela e amigo de Fininho, Robert Scheidt - e anônimos invadiram a quadra extasiados. Como disse seu próprio companheiro de equipe de tênis neste Pan, Márcio Carlsson: "Não poderia ter melhor forma de alguém encerrar a carreira como esta". (RE)