Infra-estrutura é carro-chefe para crescimento do país, dizem especialistas

11/08/2003 - 18h07

Brasília, 11/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e ministros da área de infra-estrutura, financiamento e desenvolvimento discutem com o presidente Lula, no Palácio do Planalto, medidas para o setor. Na opinião do ex-ministro de Minas e Energia, o senador Rodolfo Tourinho (PFL-BA), a infra-estrutura é prioridade para o país neste momento, principalmente em relação a estradas e energia elétrica.

O senador afirma que, em primeiro lugar, os marcos regulatórios devem ser claros para evitar um novo racionamento no setor energético. Segundo ele, as linhas de transmissão funcionam bem, mas em relação à nova geração, ao novo modelo, não há atrativos de investimentos por falta de detalhamento. "É preciso deixar claro através de um planejamento o que é preciso construir na área. A iniciativa privada quer um marco claro, quer ter certeza que os contratos não serão quebrados", diz.

Na área de transportes, o senador defende melhores estradas para o escoamento da produção agrícola brasileira, que bateu recorde este ano. Do contrário, segundo ele, o país não poderá pensar em aumento da produção. Na opinião do senador, os pontos que precisam ser solucionados para incentivar o crescimento do país são o esclarecimento da legislação e a busca de recursos, independente das restrições do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"O governo federal tem que contar com a iniciativa privada para o setor de energia, que precisa de investimentos. Não haverá parceria se as regras não forem claras. Para atrair investimento externo, o país tem que dar sinal de que a política macroeconômica está sendo bem conduzida. A chave de tudo é o investimento, mas as empresas não podem ficar constrangidas em relação ao FMI, dentro de um plano de privatização que impediu isso no passado", destaca Rodolfo Tourinho. Para o senador, o governo deve buscar recursos não só da iniciativa privada, como recursos próprios que devem ser priorizados para o setor de infra-estrutura, e até em financiamentos externos, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O analista econômico da Global Invest, Nelson Luiz Carneiro, afirma que a infra-estrutura depende de deliberação de acordo com o FMI. "O FMI considera investimento como gasto, limita as opções dos governos, não presta atenção no crescimento do país. Então como entra na conta do superávit primário, o governo pensa duas vezes antes de investir em infra-estrutura. Porém, investimento não é gasto porque traz retorno", ressalta Nelson Carneiro.

O superávit primário de julho de 2002 a junho deste ano foi calculado em R$ 63 bilhões (4,4% acima da meta), correspondente a 4,1% do PIB. Desde o início deste ano, cresceu R$ 15 bilhões. De julho de 2002 a junho deste ano, o superávit primário foi de R$ 42 bilhões.

Nelson Carneiro acredita que não sairão da reunião decisões de investimento porque não há margem de orçamento, visto que no início do ano foram cortados R$ 1,4 bilhão para garantir a meta de 4,25% para o superávit primário, comprometendo verbas para as estradas brasileiras. Para o analista econômico, existem alguns pontos de estrangulamento que comprometem o crescimento do país, como a questão da malha rodoviária, que é o transporte mais caro do país. "É preciso investir em hidrovias, meio de transporte pouco explorado e mais barato, e no transporte ferroviário, que é pouco difundido", diz.

Segundo o analista, a queda de 8% do consumo de gasolina, álcool e diesel, de janeiro a maio deste ano, em relação ao ano passado, é um dos fatores que impede que empresários invistam em refinarias. "Importamos muito petróleo, mas quem vai investir em refinaria se não tiver retorno", questiona Nelson. Na opinião dele, o governo tem que promover quedas acentuadas de juros e lutar contra o FMI pela liberação de investimentos do superávit primário e pela busca de parcerias com a iniciativa privada no exterior. Dessa forma, segundo Nelson Carneiro, a economia vai se movimentar e poderá atrair investimentos externos e de empresários.

Nádia Faggiani